“De alguma forma
absurda, nunca estive tão bem. Armado com as armas de Jorge. Os muros continuam
brancos, mas agora são de um sobrado colonial espanhol que me faz pensar em
García Lorca; o portão pode ser aberto a qualquer hora para entrar ou sair; há
uma palmeira, rosas cor-de-rosa no jardim. Chama-se Menino Deus este lugar
cantado por Caetano, e eu sempre soube que era aqui o porto.”
CFA
O
melhor porto, o mais seguro e iluminado é o que nos revela a mansidão dos
tempos no nosso peito. Depois de dizer sim ou não às surpresas que a vida nos
oferta, e contabilizar no espelho os ganhos e as perdas de cada rumo tomado,
podemos entender que na vida, só a paz importa. A graça de ter luz aonde
ancorarmos não começa na hora em que decidimos partir, porque também o destino
é variável, mas nas decisões de como seguiremos em cada dia. E o que era
tormenta, pode deixar de ser com um sim, ou com um nunca, como poetiza Clarice,
sobre o constante recomeço que somos todos nós, com os nossos caminhos e
vontades, tantas vezes feitos um no outro.
"Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula
disse sim a outra molécula e nasceu a vida. (…) e havia o nunca e havia o sim.
Sempre houve. Não sei o que, mas sei que o universo jamais começou. Ele já era
antes de ser."
Somos
um universo de possibilidades existentes. Quanta liberdade! Para que elas
realizem-se é preciso que nos assumamos imperfeitos, amorosamente imperfeitos,
que nos perdoemos por isso, e que decidamos quem queremos ser. E entre sim's e
nuncas, que nos façamos o nosso porto. De chegadas e de partidas.
Mona
Crato,
outubro de 2012.