quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Correio para você.


E a Clarice enquanto morava no exterior, em virtude da vida diplomática do seu marido, comunicava-se com os seus amigos por cartas. Longas e lindas cartas que podemos conhecer no livro Correspondências. Rocco, 2002.

Como era bacana e saudável àquela comunicação. Ainda consegui fazer parte desta delícia que era trocar cartas, quando saí cedo de casa para estudar fora do Crato. Tinha tanta alegria ao vê-las em cima da cama quando retornava do colégio, que dia desses ainda arrisquei causar a mesma alegria em um amigo querido. Enviei-lhe algo pelo bom e velho correio - em envelope amarelo, lacrado com um pincel embebido em cola branca.

Voltando ao livro, esta última que li é a resposta do Manuel Bandeira à Lispector, em 13 de agosto de 1946. Achei muito linda a forma como despediu-se dela, reafirmando ser um amigo do qual ela jamais deveria ter medo. Tão bom quanto ler, é ter certezas de abrigos como este!!

"Escreva-me Clarice. Escreva carta. Um cartãozinho seu já é uma delícia. Mas eu quero a delícia maior das cartas. E fale de você. Fale muito de você. Nunca tenha medo de falar de você para mim.
Receba um abraço e as saudades de...Manuel"

Esta e mais algumas das cartas estão disponíveis no site da Clarice.
http://www.claricelispector.com.br/carta_manuelBandeira.aspx


Mona.
Crato, fevereiro de 2012.

Enquanto me desfaço, me refaço.


"Embora eu saiba que de uma planta brota uma flor, continuo surpreendida com os caminhos secretos da natureza. E se continuo até hoje com pudor não é porque ache vergonhoso, é por pudor apenas feminino. Pois juro que a vida é bonita."

“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.

Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei."

Clarice Lispector. Clara como ela só.

Quanta lucidez tinha a Clarice! Chego a pensar como alguém pode ter sido tão lúcida com sentimentos femininos, pois sem generalizarmo-nos enquantro mulheres, sei que identificá-los por vezes é tão dificil...somos intensas demais para dizer o quanto fugimos, evitamos, negamos, e até vivemos o que sentimos. Tudo se mistura a determinada altura do chão. Quem não já confundiu-se enquanto pensava estar vivendo, e descobriu-se estar evitando viver? ou quem de nós já não achou que sentia de coração inteiro o que revelou-se ser fuga de si mesma? Sempre negamos do que fugimos. Sempre seremos pensativas demais a respeito dos nossos destinos. A cobrança atual, aguda, e pessoal, de não errarmos, está absurdamente disfarçada na liberdade de que tudo podemos fazer para sermos felizes. Mas será que fazemos?

Quero imensamente continuar minha vida real de felizes encontros e desencontros nada principescos, mas já me cobro pontualmente sobre não topar nas pedras que desencantam. Poderíamos fazer isso conosco? Evitar a queda com medo de não ser nada? Nada do que eu quero, ou nada do que o outro me diz? E se da queda surgirmos com tudo que queríamos? São férteis as dúvidas. Borbulham, se eu cultivá-las. Nas palavras "Claras" acima, extraídas de dois dos seus muitos livros, há a sugestão de que nos conheçamos até duvidar de quem somos ou do que sabemos, para aprimorar as nossas descobertas, e para que tenhamos certeza só de uma coisa...nenhuma certeza é para sempre. Não há definição permanente para nada, sobretudo para ninguém. 

É mais feliz quem aceita ir se construindo a cada dia, e entre a corda percorrida e a que ainda será, saiba aceitar as respostas do mundo, sendo "equilibristas até o fim".


Mona.
Crato, fevereiro de 2012. 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

"...eu vou me lembrar daquela canção que diz..."


Sabe quando do nada nos lembramos de uma música, e ficamos cantarolando-a? Interessante como funcionamos por associação, e transbordamos por todo o corpo, o que temos no coração. A letra desta música fala sobre os benditos encontros entre as pessoas, e nestes últimos dias tenho pensado muito a respeito da ilimitada importância delas nas nossas vidas.
Nunca acreditei que exista alegria em um caminho que é feito sozinho. É imprescindível misturarmo-nos à nossa gente, e com isso ter em mente que podemos ser grandes como Quintana, ao sabermos partilhar o valor e o propósito de uma companhia: “As pessoas não se precisam, elas se completam... não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida.”
Como em uma colcha de retalhos, com pedaços nem sempre iguais de diferentes tecidos, várias texturas e cores, com características que se misturam, vamos tecendo uma grande coberta que nos aquecerá da solidão nesta vida nem sempre dividida. Bom que todos soubessem que jamais se sente sozinho quem se vê no outro, e faz disto uma composição feliz e equilibrada. Dar o merecido valor a alguém é saber ter-se de volta na mesma proporção, ainda que não pelo outro, mas por você mesmo. Ver-se parte deste alinhavo de pedacinhos, já nos aquece e nos envolve o suficiente.
Em momentos de alegria extrema, sorrir com mais um, ou mais uns, faz a alegria ecoar com mais entusiasmo. Nunca vi alguém saudável querer comemorar algo sozinho. É urgente a necessidade de convocar semelhantes para fazer com este dom o mesmo que fora feito no milagre dos pães: “Multiplicai-vos”. Espalhai-vos, sobretudo no bem. A intenção é o contágio. Façamos do que é sagrado em nós, a nossa maior doação. O motivo pleno é a extensão infinita da forte aliança que deve haver entre nós mesmos. Ser parte, continua sendo calor e sentimento.
Para tempos de dor, oferecermos as mãos, e vê-las curar é uma mágica divina de sentir. A felicidade premia com amparo os que buscam amontoar-se em períodos difíceis. Há pessoas que por alguma razão de injustificadas razões, escolhem o inverso, e destroem corpos e espíritos, mas ainda assim não há renovação maior nos nossos corações do que a fé, seguida de gente com o seu toque, a energia dos olhares e o conforto da presença. Gosto de lembrar Guimarães Rosa que me faz não esquecer que O mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando, afinam ou desafinam, verdade maior. É o que a vida me ensinou” Em cada esquina, um cruzamento oferece um novo caminho. Deus nos permita ter sabedoria para seguirmos escolhendo contínuamente o que melhor nos traçar.
Além disto, é sempre tempo de encontrar. Os acasos proporcionam descobertas de novos sorrisos e ombros, a cada novo ganho, ou perda. Estamos tão interligados que não é surpresa sabermos de um parentesco novo com um toque antigo, e a cada tempo ido, sentimos saudades das pessoas que não temos ao alcance rápido dos olhos. Ao longo da vida, vamos construindo um acervo incalculável de nomes, encontros e lembranças, e este será certamente o maior tesouro de um homem. Imortalizada esta riqueza no nosso coração, teremos recursos para uma vida inteira de recompensas. TER com QUEM dividir, somar ou subtrair o melhor e o pior de nós, é sabermo-nos queridos e não precificados, e esta é a maior vitória que deveríamos almejar.
Vivemos para buscar a unicidade, mas sabemos que nem sempre é possível a conciliação entre todos que somos. Claro que entre as flores das estações e as estrelas dos tempos, teremos os percalços, os ajustes, as decepções, os desencontros e desacatos, as mágoas seguidas de lágrimas, de algumas decisões e dos afastamentos, afinal somos dinâmicos demais para ser previstos em um aprendizado de contexto único. Tendenciono para uma direção, e a elegi como norte, mas muitas vezes me desfaço, me perco, me refaço e então neste passo, descubro que o sentido é mesmo um só, fortalecer-nos entre dúvidas e sonhos. Peço a Deus docilidade para assimilar o que disse a atriz Audrey Hepburn, Embaixatriz da UNICEF ao final da vida. Que colocando em prática o seu sábio conselho, eu entenda que “as pessoas, muito mais que coisas, devem ser restauradas, revividas, resgatadas e redimidas: jamais jogue alguém fora.” Devo também me esforçar para saber que àquelas mais difíceis e que me magoam repetidamente “não sabem o que fazem”. Não as quero nenhum mal, mas não as sei ter por perto sem me deixar doer. Desejo um dia conseguir perdoá-las, enquanto conheço o seu universo, estando leve como a sugestão do Pessoa: Como é por dentro outra pessoa, quem é que o saberá sonhar? Nada sabemos da alma, senão da nossa...”
Interessante que não há nada mais óbvio do que a nossa semelhança, e entre olhos, narizes e bocas, em corpos tão iguais, possamos ser tão diferentes. Cada limite, ou falta de, nos registra em um plano de afinidades, onde encontramos vários de nós no mesmo passo. Nada é impossível para subirmos ou descermos nesta caminhada.  Impossível seria não citar a minha sábia e irrequieta Clarice quando ela há muito já soube dizer o que sinto agora... “O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós. uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida.”
Seguir com esta consciência liberta-nos de um amanhã pesado. É exercício para ir perdoando, ajustando, conhecendo os nossos, sendo eles quem forem, irmãos, filhos ou amigos. Não é para estancarmo-nos na infelicidade de uma dor ou de um desencontro que alguém nos provoca. “Apesar de”, este é um bom motivo para darmos um passo largo, levando daquele chão apenas a lição. Não suporto ruminar experiências. Elas são para serem vividas, e só. A partir delas, é que somos nós. Além delas, é que existimos. Melhor concentrarmos tudo neste ponto. Em quem nos tornamos, como somos ou reagimos, construímos e regamos as nossas relações. Sempre poderemos melhorar.
Assim, agradecendo, reconhecendo o valor de ser pessoa, de tê-las tantas, tantas boas delas, na minha vida, e plantando a paz que desejo no meu coração, me confesso, enquanto me convido a continuar vivendo feliz, grata, entre muitos, inspirada nas lições Lispectorianas, as quais me alegram o espírito e me renovam os limites certas vezes reduzindo-os, mas que felizmente na maioria delas me faz extrapolá-los.

“(...) farei o possível para não amar demais as pessoas, sobretudo por causa das pessoas. Às vezes o amor que se dá pesa, quase como uma responsabilidade na pessoa que o recebe. Eu tenho essa tendência geral para exagerar, e resolvi tentar não exigir dos outros senão o mínimo. É uma forma de paz. Quem me acompanha que me acompanhe: a caminhada é longa, é sofrida, mas é vivida.


Mona.
Crato, Fevereiro de 2012.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Imaginando coisas boas.



Pensar em "coisas boas" nos faz estender o mundo sob os nosso olhos fechados e voar sobre ele transcendendo o corpo, oferecendo-no a eternidade que são os segundos vivos de felicidade! A imaginação tem multiformas, devendo jamais ser linha reta. Segundo Baudelaire, "A imaginação é positivamente parente do infinito", e nada mais justo que possamos imaginar infinitamente sobre a finitude que somos, na condição de inacabados que possuímos, afnal encerramo-nos em construção, feitos por partes, sendo mosaicos de nós mesmos. Nós de ontem, nós agora, coladinhos ao que ainda seremos quando o amanhã vier. A Clarice Lispector  tinha consciência do nosso tamanho e entendia que "Não estou à altura de imaginar uma pessoa inteira porque não sou uma pessoa inteira." Caso repitamos isto, como um mantra, teremos mais humildade para amansar o nosso coração, ajustando-no como bússola para ser norte das nossas atitudes.

Sei bem que aqui, no plano real em que vivemos à imaginação do que é (im) possível, NUNCA devemos perder a capacidade de deixar o nosso coração leve, fazendo o que podemos fazer de melhor. Podemos sonhar com um céu azul, coberto de pássaros que deixam à sua sombra no nosso chão e andar por entre eles, podemos ouvir um amigo cantar, ou chorar, e fazê-lo junto até enjoar, devemos abraçar alguém que precisa de carinho e ter a benção de ganhar o carinho de volta, olhar nos olhos de quem baixou a cabeça para saber dos próprios passos e descobrir os nossos, estender as mãos a quem cruzou os braços porque precisa de companhia e não tinha, nos tornando uma, precisamos dividir sonhos com o outro que já não tem imaginação, porque já não lembra que tudo que imaginamos pode um dia ser real. Isso é "fazer da interrupção, um caminho novo". É permitir que destranquemos as esperanças, combustível do imaginário.

Machado de Assis em Dom Casmurro, decifrou como era a sua onipresente amiga de todas as horas: "A imaginação foi a fiel companheira de toda a minha existência, viva, rápida, inquieta, alguma vez tímida e amiga de empacar, as mais delas, capaz de engolir campanhas e campanhas, correndo..." e com isto me fez lembrar que já precisei imaginar um horizonte rosa, infantil como éramos eu e o nosso eterno deslumbre ao ver um arco íris. Meu céu rosa existia durante as chuvas diárias em um período de inverno. É preciso ir além do que temos, para a uma certa distância, ver que temos muito. Há muito deixer de ver tudo rosa, e aprendi que cada cor tem o seu encanto. Também não desejo mais colorir as lágrimas, porque posso pensar que as próximas serão da mais pura alegria, em outros invernos, ou outras primaveras! Esperarei obediente pela próxima estação sempre a chegar. É preciso sentir a passagem de cada momento, entendendo que há um propósito para tudo o que nos acontece.

Acho a Lispector incrívelmente forte, isso não é segredo, tampouco revelação. Mas ela conseguiu definir-se tão bem, e junto dela levou a todas nós, mulheres que deixam surpreender-se pela aceitação dos limites que possuem os nossos olhos sonhadores, mas que adoramos sim, sonhar com e por eles, que não há como não citá-la enquanto falarmos do nosso refazimento, das coisas boas, dos sonhos, da imaginação, e de um coração que descarrega pesos para levitar até a Terra do Nunca, mesmo sabendo que o nunca é algo impossível, e nunca chegará. Para quem não se lembra, na estória aludida, só voava para este destino junto ao Peter Pan, aquele que tivesse um coração povoado de "coisas boas". A intenção e a intensidade eram termômetros para a altura e velocidade. Neste ponto, voltamos ao nosso espaço. Quanto melhores...

"Ela é assim! Pronto.
Mas assim como? Explica!
Ela é assim um mix de tudo que se possa imaginar dentro de uma grande capacidade de apenas não ser nada em definitivo. Ela é aquilo que não consegue se encaixar em moldes pré-existentes, parece que ninguém nunca foi antes dela. Ela se incomoda com isso, às vezes, muito. Ela é cheia de sentimentos, parece que suas experiências se manifestam é no dorso do seu colo, e quase sempre, de vez em quando, tudo isso pesa. Mas não tem modo, não existe maneira que a faça ser diferente. E ainda, graças a Deus, ela é diferente. Algo que pesa e que tem o dom da leveza, algo que chora e que se manifesta em sorrisos, algo de forte, mas que se desmancha quando encontra a água."
Clarice Lispector

Entre todas as contradições possíveis, e não imaginárias, sei que ela conseguiu dizer-se em apenas uma frase:

"Imagino-me forte, mas sei que desmancho com a água."

...Nunca vi tanta perfeição em uma combinação: Imaginar o que podemos, enquanto sabemos quem somos. Já não dissemos que tudo o que imaginamos pode um dia ser real? A distância entre quem somos e o que podemos, vai sendo percorrida lentamente enquanto vamos descobrindo o que sabemos e queremos das nossas vidas. A medida equilibrada para nao nos fazer hesitar, e nos dar sentido e solidez, será sempre proporcional à quantidade de paz que carregamos no peito, no nosso universo. Nesse vôo para nós mesmos, desejo com a mesma singularidade de Olavo Bilac, apenas "a capacidade de ouvir as estrelas."

Mona.
Crato, fevereiro de 2012.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Gustavo Santaolalla



http://youtu.be/hdmsHYJApLQ

Perfect Soundtrack!!
I love it!

Escutando hoje, no volume máximo, enquanto penso no neu diário, que não é de motocicletas, mas é no percurso entre as nossas cidades vizinhas, com o pensamento crescente como essa música inspira que seja!

Mona.
Crato, fevereiro de 2012.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Música-linda-preferida-mais-escutada-de-todos-os-tempos-do-mundo-mundial!




"...I look at you all see the love there that's sleeping, w
hile my guitar gently weeps..."

Para ver outra versão perfeita, desta vez com o Eric Clapton, intérprete original para esta canção do George Harrisson, http://youtu.be/rj4J6i_vw0w

Ambas devem ser ouvidas em ALTO e BOM som!
Eu ouço muitas, muitas, tantas quantas vezes consiga!

Mona.
Crato, fevereiro de 2012.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

(Re) Ver para não esquecer!



Antes do Amanhecer ( Before Sunrise - 1995) e Antes do Pôr-do-Sol ( Before Sunset - 2004).

Hoje um amigo me fez lembrar destes filmes que assisti há alguns anos. Como alguns outros, estes também têm sensibilidade de verdade na construção, e foram feitos para sugerir questionamentos sobre as particulares visões de homens e mulheres, despertando identificação com características típicas de cada sexo, provocando nosso pensamento sobre a ligação entre as necessidades sentidas e as diferentes escolhas que fazemos a partir de cada idade e consciência. Nos dois filmes da sequência intercalada por nove anos, percebi muito dos meus desejos, sonhos, diálogos, idéias e ideais, desapontamentos, encontros e desencontros naturalmente confusos e simultâneos como na realidade dos quais foram retirados, afinal os dois relatos estão longe de ser ficção. É tão trivial perdermo-nos entre as muitas possibilidades que temos, ou que pensamos não ter, que não raramente sabemos e sentimos, sobre os encontros não vividos, retraídos, abandonados impossibilitados, mas carregados como lembranças, imortalizados em olhares que se reconhecem, ou em pequenos flashes de alegria ou de projeção que perduram o suficiente para nos fazer duvidar..." Ah! SE eu..."

Não há menção sobre quem inspirou os autores a escrever tal roteiro. Dizem que é autobiográfico. Mas a citação não é necessária. É tão comum vermos pessoas que (des) encontraram-se por suas decisões em diferentes momentos, e ao contrário dos que confiam no acaso, fizeram escolhas próprias, quanto sabermos que também (não) escolhemos e (não) decidimos as sequências das nossas vidas por infinitas vezes, parecendo esperar a articulação do universo, mesmo quando ao inverso do filme, ficamos aonde já chegamos sob a desculpa de o destino parecer conspirar para não irmos a outro lugar. Será?! Não escolher já não é uma escolha?! Fácil apontar culpados para a nossa infelicidade. Acho tão absurdo acreditar que não há alternativa, como se a sua opção de ontem se tornasse um castigo ou uma condenação, tal qual espernear em caminhos de areia movediça. Brincando com as palavras e os sentidos, diria que há sempre uma saída, ACIMA de tudo. Destino igualmente assustador para os que acham que não há mais para onde ir, porque não haveria mais sobre o que decidir, já que a vida segue o curso natural, com tudo que tinha que ser. O que?! A vida passa, "o tempo não para" e as condições restritas pelas convenções e objeções naturais já amedrontam quem não foi aonde gostaria de ter ido. "Ah, SE eu...!"

Sei que inúmeras vezes desejamos ficar entre o anoitecer, pausados na madrugada, para não ter que amanhecer, mas sendo impossível não seguir, devemos ponderar as nossas estradas entre o mapa já traçado e aquele que sempre poderá vir a ser um caminho descoberto. Depois de percorrido, um dia este também estará no mapa, e o que os diferenciaria então? A passagem. Ela é que os fará existir. Passar por eles, ou não, nos pontilha para como afinal somos agora. Entre as idas e vindas vamos nos fortalecendo, conhecendo, limitando os pontos a percorrer, sabemos aonde não queremos ir e não vamos, aonde queremos e por vezes ainda não vamos, mas acredito que o que dói mais é não ir a nenhum lugar, porque não há chegada para os que não partem. Sigamos ricos e iluminados como sugere Oswald de Andrade, " Quero a contribuição milionária de todos os erros!", fazendo de todas as fragilidades e imperfeições, aprendizados para quando acontecerem às nossas segundas, terceiras, quartas...chances. Quando paramos de obstacular a felicidade, há sempre outro rumo a se revelar.

Não há fracassos nos limites aceitos. Compreendê-los nos rende a consciência de entender o que nos disse o poético Pessoa :

" Não sou nada.
Nunca serei nada.
À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo!".

Devemos continuar a sonhar para libertar-nos dos estigmas da perfeição (inalcançavel) que rascunhamos no nosso dia a dia, e no do próximo, em tempos de resultados, números e metas, inclusive nas relações emocionais. Abandonemos a letargia das contradições e tracemos com simplicidade os nossos pontos de ações e realizações, começando a caminhada para encontrar-nos com o que é essencial. Somente a entrega com inteireza nos levará a sentir com calmaria, o sabor de ter conciliado estar e querer estar, em um mesmo lugar.

Mona.
Crato, fevereiro de 2012.

Para saber mais sobre a reportagem do The Guardian atribuindo a premiação merecida do filme:
http://gu.com/p/2kbjb

Para ver a lista indicada pelo mesmo Diário sobre "Mil filmes para ver antes de morrer":
http://film.guardian.co.uk/1000films/0,,2108487,00.html

"Singing in the sun..."



Para cantar sempre, com sol ou chuva.
Porque cantar nos faz ter sintonia com o divino que há no mundo!
Hoje eu canto muitas, e outras tantas vezes...Paramore http://youtu.be/-J7J_IWUhls

Mona.
Crato, fevereiro de 2012.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

As flores do campo.





"Eu não sou um homem, sou um campo de batalha."
Friedrich Nietzsche

Na nossa visão simplista, Nietzsche me parece cansado de tantos embates, descrente ou bravo com as soluções para eles, nestas suas palavras. Ou talvez não...pode estar vangloriando-se de saber lutar com as suas idéias sempre sábias, porém pessimistas, e neste contexto, com elas declara-se um vencedor. Sentimentos comuns nos dias de todos nós que entre as suas derrotas e vitórias, pulverizamos esperança para limpar a estrada que se constrói com, e para a felicidade. Bom, eu sou uma mulher que tenho assumidamente uma visão mais romantica, e no meu campo travo grandes batalhas comigo, mas as sementes lançadas ao vento dos meus movimentos, me fazem germinar o tempo inteiro. Não digo que dele só nascem flores, mas afirmo que elas perduram mais do que as ervas espinhosas. Para estas, herbicidas poderosos como o perdão e a alegria.

Estes dias, lendo um livro com relatos de mulheres que viveram grandes infortúnios, pude perceber o sentido da afirmação de Léon Tolstoi, onde ele diz que há uma grande diferença entre os que "vêem o bosque, e os que apenas enxergam a lenha que ali está..". A Anne Frank é um exemplo imensurável de alguém que transcendeu a sua visão de mundo real, nos dando uma das maiores lições sobre a busca da felicidade e da sua presença universal em nós. Não podemos dizer que ela teve uma vida propriamente feliz, mas é fato que ela procurou felicidade onde pôde. Travou as suas batalhas em campos maléficos, com cor de chumbo, e mesmo assim conseguiu florescer no seu olhar sobre o mundo, e para o nosso, uma visão colorida do que é viver entre tantos "sonhos despedaçados", como descrevera certa vez. Em outras palavras, ela teve uma lucidez divina, abençoada, e eternizou em si mesma os seus momentos felizes, fazendo das suas lembranças e imaginação, pontes para a superação de um agora tão dramático.

"Saia, vá para o campo, aproveite o sol e tudo o que a natureza tem para oferecer. Saia e tente recapturar a felicidade que há dentro de você; pense na beleza que há em você e em tudo ao seu redor, e seja feliz. A beleza continua a existir mesmo no infortúnio. Se procurá-la, descobrirá cada vez mais felicidade, e recuperará o equilíbrio. Uma pessoa feliz tornará as outras felizes; uma pessoa com coragem e fé nunca morrerá na desgraça."

Aumentemos o nosso horizonte, e o campo irá acompanhá-lo.
Não há praga que não se renda à luz do sol, das certezas do nosso coração que tem amor e que nos enraíza aos nossos, nos enchendo de força. Juntos, já entendemos que sempre será tempo de lavrar e florir o infinito que é a nossa vida e a nossa felicidade.

Mona.
Crato, fevereiro de 2012.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

"Deus é Deus."



"Se você não acorda cedo, nunca conseguirá ver o sol nascendo.
Se você não reza, embora Deus esteja sempre perto, você nunca conseguirá notar sua presença."

É bacana saber que podemos ser quem quisermos, da forma que escolhemos ser! E quando não dá certo este ser, podemos então ter um novo olhar para seguir. Deus nos permite esta escolha! Isso é tão belo...tão generoso! Façamos a nossa parte, então...

Desejemos boas coisas para a nossa vida, e para a do próximo, tenhamos um coração grato e feliz como testemunhou tão bem a Madre Teresa, "Um coração feliz é o resultado inevitável de um coração ardente de amor", com este coração pratiquemos o bem, exerçamos a confiança de que Ele nos guia e ampara em todos os passos, e principalmente, saibamos que todos os momentos das nossas vidas são temporários, dos mais prazerosos aos mais dificeis. É preciso aprender a passar por eles com humildade, reconhecendo a nossa participação nos resultados, levando com leveza cada uma das suas lições. Acredito que o que nos separa do milagre que há na felicidade de cada dia, é a crença, a vontade, a confiança. A isso podemos chamar de esperança, ou de fé...nem sei bem. Eu entendo como entrega, e acho que isso significa saber esperar.

"Jesus, eu confio e espero em vós tudo que quiseres para mim!"

Sentindo assim, fica difícil não pensar como o Caio Fernando Abreu..."Algumas vezes não sei o que faço, ou onde fico: tenho muito medo, mas confio em Deus. E apesar do meu medo comum de ter medo, há em mim uma paz enorme que eu chamo de felicidade.”

Amanhã, para espantar os nossos medos fincados entre nós e o mundo, que acordemos ainda mais cedo, só para ver o sol nascer. Esta será a primeira oração do novo dia que sempre chega quando aprendemos a amanhecer entre nós e Deus.

Mona.
Crato, Fevereiro de 2012.
 

Seja o que queres ter, e terás.


"No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas que o vento não conseguiu levar: um estribilho antigo, um carinho no momento preciso, o folhear de um livro de poemas, o cheiro que tinha um dia o próprio vento..."

Extra! Extra!! Imperdível!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

As IV Leis da Espiritualidade Indiana.

"é acreditar no que você não vê; a recompensa da fé é ver o que você acredita."
Santo Agostinho

I
“A pessoa que vem é a pessoa certa“.
Ninguém entra em nossas vidas por acaso. Todas as pessoas ao nosso redor, interagindo com a gente, têm algo para nos fazer aprender e avançar em cada situação.

II
 “Aconteceu a única coisa ...que poderia ter acontecido“.
Nada, absolutamente nada do que acontece em nossas vidas poderia ter sido de outra forma. Mesmo o menor detalhe. Não há nenhum “se eu tivesse feito tal coisa…” ou “aconteceu que um outro…”. Não. O que aconteceu foi tudo o que poderia ter acontecido, e foi para aprendermos a lição e seguirmos em frente. Todas e cada uma das situações que acontecem em nossas vidas são perfeitas.

III
 “Toda vez que você iniciar é o momento certo“.
Tudo começa na hora certa, nem antes nem depois. Quando estamos prontos para iniciar algo novo em nossas vidas, é que as coisas acontecem.

IV
 “Quando algo termina, ele termina“.
Simplesmente assim. Se algo acabou em nossas vidas é para a nossa evolução. Por isso, é melhor sair, ir em frente e se enriquecer com a experiência. Não é por acaso que estamos lendo este texto agora. Se ele vem à nossa vida hoje, é porque estamos preparados para entender que nenhum floco de neve cai no lugar errado.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Somos, serás, seremos.


Hoje ganhei um abraço tão amigo, tão cheio de calor.
Depois do abraço, durante o afastamento dos corpos e aproximação dos olhares, onde há sempre muito carinho acontecendo, entre as coisas não ditas e as verbalizadas, uma me despertou o pensamento:

“-Reze amiga, há tanta inveja em torno de você. Estes dias, escutei tantas palavras ruins vindas de olhares piores, maldosas demais para que eu possa repeti-las. Mas sei que é só inveja. Siga tranqüila.”

Saí agradecida pelo abraço e cuidados desmedidos, mas pensei dolorida: “Inveja? De mim?!? Mas por que?!?” O pensamento me acompanhou, Permiti que aquilo me invadisse. Por que alguém teria inveja de mim? Não consigo dimensionar como, nem que importância dei a este sentimento, se mais ou menos do que o necessário, mas o fato é que humana que sou, me senti mal compreendida, incomodada, ferida.
Tenho pouca intimidade com o assunto, mas indignei-me como pude deixar alguém que eu não conheço, nem mesmo sei quem é, entrar no meu coração sem apresentar-se, e ainda, por que eu o abri? Ainda que fosse por uma boa ação, mas não. Me chegou em forma de desamor, amado Chico. Repeti para mim uma das suas frases que pedem cuidado “... e qualquer desatenção? faça não, pode ser a gota d’água!”, e segui abrindo a represa do que me faz sofrer, aliviando a força e a pressão de cada cada uma das afluências que convergem sobre nós, tentando acreditar que este deve ser somente o curso natural e infantil de quem deseja mais atenção do que tem. Certas pessoas preferem o caminho mais difícil para alcançar o outro. Eu entendo que é melhor dizer com simplicidade e verdade: “ Gostaria de conhecê-la, sabia? O seu sorriso me fez bem.” Puxa, isso me faria cair de joelhos aos pés de alguém assim, partilhando a minha alegria que vem de DEUS, até construirmos juntos um dique, para estocar os sorrisos bálsamos que fluirão na correnteza de cada momento, sob bom ou mau tempo.
Martha Medeiros tem muitos livros, com conteúdos interessantes e títulos idem. “Doidas e Santas” tem passagens que me envolvem as idéias a respeito deste assunto.
Nunca fui santa. Penso trilhar um caminho para ser melhor, menos egoísta, egocêntrica, orgulhosa, impaciente, vaidosa talvez, mas entre os meus tropeços sei que hei de andar propositadamente a passos curtos, para deixar as características imprecisas pelo caminho. Melhor ir com calma, e refazê-lo só no que for necessário. A felicidade me guiará.
Doida? Também não. Nunca fui. Fui firme, crente nos meus sentimentos, fiel às pessoas da minha vida e propósitos, sou companheira, amiga, carrego as minhas certezas para onde vou e diria que as de caráter são pouco alteráveis. Mas como Camões, sei que tudo é mutante, e acredito que estamos sempre em transformação. “Mudam-se as tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser.” Aprendi cedo que as necessidades mudam, e que é preciso usar o bom senso para ajustar-nos na corda bamba que é o nosso limite.
Mudança é a chave da cura para o invejoso. Auto-estima também. 
Se pudesse conversar com este que fez as observações ouvidas pelo meu amigo, Imagino que lhe diria para gostar de si próprio, e continuaria abertamente, olhando-no nos olhos...

Pretenso amigo, meu e de outrem, (...) que não sabe como "nas noites escuras de frio, chorei..." que você seja você como todo mundo, que seja uma "metamorfose ambulante", que inspire-se a mudar na sua vida o que não gosta e não haverá motivo para que veja no outro (o que faz odiá-lo), aquilo que gostaria de ser, e não o é por falta de coragem. Tudo é passível de acontecer. E isso não é frase de efeito para vender livros de auto-ajuda, ou produtos de embelezamento - externo, óbvio. É uma sugestão para que se descubra. Saiba o que te fará mais feliz, e aja. Se quer uma pista, certamente é isso que observa tanto naquele que passa sorridente e não te diz como, porque você nem mesmo pergunta. Faça algo semelhante. Comece admirando-no, e isto te dará um sorriso igualmente livre! Diria ainda para procurar os seus amigos. A falta de amigos causa a solidão, e traz um vazio que te desorienta sobre tudo. Eles podem te ajudar a mudar o foco, e olhar o muito que tens.
No mesmo livro bem humorado a Martha diz, “Apenas sentem-se agredidos aqueles que te invejam." Agredidos? Vamos pensar como. Alguém tem a atitude de ser feliz e isto em vez de te inspirar, te agride? Repense. Neste caso, vejo somente duas alternativas. Ou caminhamos juntos, ou você vai para o lado oposto. A minha coragem de seguir deve te convidar, mas é preciso perceber os limites e situações particulares. Fomos feitos para dar certo, mas não somos parte de uma receita. Haverá sempre algo para decidir, e não culpe o seu próximo que decide, porque ainda não aprendeu a fazê-lo. Aprenda. Julgue menos, viva mais. Deseje seus desejos, e os assuma. Escolha a vida que quer levar, ou apenas deixe que o outro o faça. É um bom começo.
Acredito que temos muito. Assim como você, tudo o que me movimenta é o desejo de realização e vida plena. Para mim, isto significa ter uma vida abundante em amor, envolta pela minha família e amigos, com força, saúde e fé para aproveitar as oportunidades que temos como filhos de Deus que somos. Sei que para Ele não há preferentes. Todos temos à Sua mão como amparo e proteção.  Para os que não o são, não há assunto. Não comigo. Não sei discutir malignidade. Penso como o Caio, e  repito: “Enquanto você me deseja o mal, eu te desejo amor.” Única arma capaz de salvar todos os corações.
Insisto em repetir que todos somos agraciados pelos dons divinos, e ganhamos possibilidades infinitas de escolhas para fazer os nossos destinos, e até para refazê-los. A coragem de viver após um casamento que se faz acabar? O renascimento da cor que se estampa no rosto de quem a vivencia? Ou ainda uma esperança persistente, um romance que se despede, ou se anuncia, uma roupa nova idealizada nas páginas da moda, ou da vida, um corpo que só busca harmonia e bem estar, comida na mesa, um sapato que não aperte, um trabalho real, uma xícara de café com leite degustada entre risos na alegria de uma companhia amiga, um teto com uma plantinha para agoar e quem sabe conversar um pouco, paz para dormir, uma música que parece ter o nosso nome ou uma poesia feita para ecoar, um amigo para todas as horas, e um sorriso também...? Estas “coisas”, que entre as suas proporções, podem ser desejadas e vivenciadas por todos nós, devem ser sonhos, vontades, objetivos, assunto para crescermos até alcançarmos, e não para nos afastar do ideal que é querer conseguir. Eu tenho algumas destas, outras ainda não, e nem sei se vou consegui-las, mas o que sei é que é preciso enfrentar as situações que a vida nos apresenta. Requisitar a autoria dela, sabe? Podemos ser iguais, se você pensar que a tem. Ou não.

E aí, o que nos difere talvez seja o segundo passo. É nele que eu leio a Clarice para nós:
"Escuta: eu te deixo ser, deixa-me ser então."

Mona.
Crato, Fevereiro de 2012.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Mais.


"A beleza da vida se multiplica cada vez que a gente partilha com alguém que a gente ama.
Se você quiser multiplicar a sua vida, você precisa dividí-la, ou somá-la.
Submeta-na às operações onde o menos sempre será mais. "

Pe. Fábio de Melo

Passo a passo.



"O que dá o verdadeiro sentido ao encontro é a busca, e é preciso andar muito para se alcançar o que está perto."

José Saramago

A cada dia, um pouco mais, um pouco menos...



"Quando olho para o meu passado, encontro uma mulher bem parecida comigo - por acaso, eu mesma - porém essa mulher sabia menos e achava mais, conhecia menos lugares e ansiava mais, tinha menos emoções e desejava mais..."

Martha Medeiros

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Ilumine-se.



"Dois monges certa vez viajavam juntos por uma estrada lamacenta. Uma pesada chuva ainda caía, dificultando a caminhada. Chegando a uma curva, eles encontraram uma bela garota vestida com um quimono de seda e cinta, incapaz de cruzar a intercessão.

... - Venha, menina. - Disse um dos monges de imediato.

Erguendo-a em seus braços, ele a carregou atravessando o lamaçal. O outro monge não falou nada até aquela noite quando eles atingiram o alojamento do Templo. Então ele não mais se conteve e disse:

- Nós monges não nos aproximamos de mulheres. Especialmente as jovens e belas. Isto é perigoso. Por que fez aquilo? - Disse ele.

- Eu deixei a garota lá. Você ainda a está carregando? - Respondeu o outro monge."

Parábola budista.

Adorei essa parábola!!
Nos conta também sobre a situação onde muitas vezes, aquele que nos critica por uma ação, tem o coração impuro, como o nosso que a praticamos não o é. Interessante ver que o que é importante é o que que se faz com o pensamento e o que sentimos em relação à ele = atitude, e não a crítica e o apontamento do outro, sendo esta acusação somente reflexo da sua própria covardia. Neste caso, acaba-se por ser muito rigoroso com o proximo, para obrigar-se a ser consigo mesmo. Pessoas que não agem com liberdade, por vontade, com consciencia, precisam fazer essa vigília alheia. Quanta ilusão! É perda de tempo procurar no outro aquilo que não está em você, já que não se adquire nada por imposição. Isso me fez pensar se alguém acredita mesmo que sugerir o mundo à amargura poderá de alguma forma ser condição de felicidade?

Não precisa pensar muito. Não há como.
A lei do retorno não é esta.

Quem é feliz não perde tempo acusando quem também o é. Neste caso, o tempo será gasto na partilha e no encontro das alegrias. Já quem não é..., prefere não entender que também pode ser, e inveja o sorriso alheio, como se aquela luz lhe fosse uma ofensa. Como incrédulamente lamenta o Chico: "...Qual o quê...?!?"...Para deixarmo-nos envolver pela alegria, é preciso escancarar o peito, libertando-no de tantas convenções. Devemos estar desarmados! Sempre é tempo de desamarrarmos projeções, de assumirmos as culpas e frustrações, de renovarmos as nossas promessas particulares e seguirmos mais leves, na condição de sermos iguais, comuns, sabendo que somos apenas "uma possibilidade", como nos relembra o querido Padre Elias ao citar o filósofo Roberto Crema. Enxergando com lucidez e generosidade poderemos ir tão libertos pela "estrada afora", que o bom caminho há de nos encontrar. O monge livre nos diria: " Venha, menina!!"...Eu acho que podemos ir, sem pressa, maturando os sonhos e limites. Seremos felizes sozinhos, aos pares, aos montes, de olhos bem abertos, contemplando as passagens, olhando para dentro mais do que para fora. É melhor não perdermos de vista à alma e o coração, enquanto enfrentamos, ou não, os incontáveis percalços que encontraremos a cada escolha feita.

Quando aprendermos a contar somente as estrelas, na eterna dinâmica de desfocar a contagem das "pedras" de cada um,  a soma dos passos terá o brilho que merece. Para isto, é preciso mudar o campo de visão. Basta piscarmos os olhos, e antes de abri-los, darmos outra direção ao nosso olhar e pensamento. 

Iluminar o mundo diariamente, é antes de tudo, uma decisão nossa.

Mona.
Crato, fevereiro de 2012.