terça-feira, 29 de maio de 2012

Amor, alegria e arte.


...E em qualquer manifestação sincera que seja, tem-se...
"uma idéia feliz do quanto o amor é pura arte."
Ana Jácomo

Clarice disse uma vez que "viver não é visível".
Acredito que ela se referia a condição de sentir, porque é impossível ver o que vive dentro de cada um de nós. Viver não é coisa que se faça para ser visto. Isso é latência, é carência, mas não é destino. Seria uma razão mediana, dessas que matam a alegria. Viver é tão grande, e tão complexo, que para dar certo é preciso querer viver. Ter norte, fé, rumo, peito, amor. Com exceção de Deus, não é necessário que nos saibam vivendo, ou melhor dizendo, que não vivamos para ser vistos pelos outros, apenas. Concordo que todos temos os nossos propósitos, limites e objetivos, que de tão pessoais também são indiscutíveis, mas repito... não devemos viver alheios à nós mesmos, para fazer-nos ver em uma vida que já não nos reflete. Isto é teatro de si mesmo. Dias de encenação justificam as marcas dos rostos exaustos que nos cruzam às ruas do tempo. Isto sim, é visível. As entrelinhas sempre pertencerão aos donos dos sorrisos opacos, mas a ausência de luz se faz vista nas linhas vazias que os seus olhares desenham à sua volta. Falta-lhes movimento. Pelos quais, eles também clamam uma salvação. A falta de esperança adoece, algumas vezes até condena. Mas é só até ver o céu do tamanho que ele é...tudo é tão infinito. Por que temos a mania de minimizar a vida?!

Não vivemos para justificar razões, não àquelas que criamos para nos ajudar a não ir aonde não sabemos, porque temos medo. Talvez, se conseguirmos nos rever, nos prometer menos e nos cuidar mais, possamos manifestar primeiro em nós o amor pleno da compaixão, da aceitação...da humildade. É sempre tempo de aprender. Hoje, amanhã, depois, quando ele chegar. O que interessa é o querer, não os sacrifícios. É a neutralização das mágoas e tristezas. É o compromisso com a felicidade.

Haverá eternamente razões suficientes para justificar a plenitude da nossa vida. Quando aprendermos a buscar a luz em cada uma delas, valorando o que merece gratidão, é impossível que não nos saibamos felizes, ou cheios de graça, porque seremos portadores destes dons, e eles abençoadamente se propagam. Felicidade e gratidão andam de mãos dadas. Isto também não é vivido com o propósito de ser visto, mas não há quem disfarce, ou deseje fazê-lo, porque já não é uma escolha espalhar o bem. É partilha.

Ouvimos do São Francisco, mestre na arte de espalhar a esperança, que..."Um único raio de luz, é capaz de afastar várias sombras", que sejamos então veículos iluminados do amor, na sua arte e alegria.

Mona,
Maio de 2012.

Sorte



"O amor precisa da sorte, de um trato certo com o tempo,
Pra que o momento do encontro seja pra dois o exato momento.
O amor precisa de sol, e do barulho da chuva,
De beijos desesperados, de sonhos trocados, da ausência de culpa."

Zé Ricardo,
Exato momento.
http://letras.terra.com.br/ze-ricardo/1969093/

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Simbolizando

Aprendendo


"Quando começam a me fazer muitas perguntas complicadas, me sinto como a centopéia que um dia lhe perguntaram como ela não se atrapalhava ao caminhar com cem pés. Ela foi demonstrar sua técnica e acabou desaprendendo-a. Eu também tenho medo disso."

Clarice Lispector em entrevista para o Jornal da Tarde, janeiro de 1971.
Outros Escritos. Editora Rocco.

..Quando aprendemos a aceitar as surpresas da vida, entendemos que nem tudo requer explicação. E mesmo sem precisar entender alguns passos,  é necessário vez por outra, certificarmo-nos de que os nossos pés estão bem plantados no chão de cada olhar, na humildade das escolhas, na lealdade das entregas, e que isto nos possibilite ver o tamanho real de cada uma das coisas das nossas vidas.

Vejo o céu infinito, lindo e azul que me acompanha, e peço que o que vale a pena ser grande, se agigante e se eternize em nós, e que o que não vale, meu Deus, que com a força dos ventos e do perdão, seja levado para longe, desocupando os espaços e permitindo o aprendizado, a renovação dos sonhos, e da esperança, porque tudo isto é tão somente alegria.

Mona.
Maio de 2012.

Compreensão


"Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. (…) e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o que, mas sei que o universo jamais começou depois. Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade através de muito trabalho. Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer?

Mas se eu esperar compreender para aceitar as coisas - nunca o ato de entrega se fará. Tenho que dar o mergulho de uma só vez, mergulho que abrange a compreensão e sobretudo a incompreensão. E quem sou eu para ousar pensar? Devo é entregar-me. Como se faz? Sei porém que só andando é que se sabe andar."

Lispector

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Escolha.




"Se, ao acordar, posso escolher uma roupa,

posso escolher também o sentimento

que vai vestir meu dia.

Se, no percurso, posso errar o caminho

posso também escolher a paisagem

que vai vestir meus olhos.

A mesma articulação que tenho para reclamar,

tenho para agradecer.

E, se posso me adornar com a alegria,

não é a tristeza que eu vou tecer.

Que sempre seja o hoje UM BELO DIA!"

Marla de Queiroz

Orange yourself!


"Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo."

Adélia Prado

Olhar



Só choro às vezes é porque a vida me parece bela
(O sol. As cores. As coisas.)
Mas é de emoção, não de dor.
Tá tudo certo.

Caio F. Abreu

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Bom dia, com alegria!



Ontem ouvi um questionamento sobre a origem da felicidade de cada um. E eu sei que este é um assunto relativo, pessoal e extremamente complexo, mas como me perguntaram sobre o porque de eu ser tão feliz, e a pergunta ruminou no ar uns minutos antes de alcançar-me o coração, pensei que os meus motivos são tão simples e comuns, e que exatamente por isso são tão caros e raros.

A primeira resposta que pensei foi...
" Sou assim porque sou filha dos meus pais imperfeitos, mas que por um amor verdadeiro, teceram uma família feliz, e me fazem o melhor que sabem, sempre; Sou irmã dos meus irmãos maravilhosos que me fortificam com as suas presenças, e me presenteiam com os seus olhares e as suas atitudes de amor, cada um do seu jeitinho; Sou mãe dos meus filhos abençoados que me moldaram melhor do que jamais seria caso não os tivesse, e porque assim como o Caio F. considero as cicatrizes símbolos da alegria de ter sobrevivido às intempéries nossas de cada dia."

Depois de pensar isso, e de rir como costumeiramente, com a alegria da consciência de quem tem gratidão por toda a vida, respondi que sou feliz porque tenho Deus no meu coração, que Ele se traduz em uma esperança que não finda, e que por isso a minha alegria renasce todos os dias. Isto está ao alcance de todos. A gratidão é uma vontade. É confiando no tempo de agora, aproveitando as oportunidades com paz, que a certeza de que Ele "é o caminho, a verdade e a vida" faz morada no nosso coração.

A maior riqueza de um sorriso é o contágio. A multiplicação é o seu propósito. Escolhamos deixar bons sentimentos por onde passarmos. Já que sabemos que a vida tem suas muitas voltas, no mínimo, isto nos assegura encontrá-los em uma próxima esquina que cruzarmos.

Comecemos com um Bom dia! Vamos acrescentar alegria nas nossas palavras!

Mona.
Maio de 2012

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Vida Simples.



“Simpatizo cada vez mais com quem nos ajuda a remover obstáculos mentais e emocionais, e a viver de forma mais íntegra, simples e sincera.”
Martha Medeiros

Simplificar não dói, não custa, e é possível.
Em um mundo que vive em busca do "melhor de tudo", a cobrança de perfeição certas vezes é tão intensa, que eu sinto como a Simone de Beauvoir ..."Eu gostaria muito de ter o direito, eu também, de ser simples e muito fraca”, mas eu sei que não é fácil, no que a Clarice me complementa: "Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho."

A um passo de cada vez, tento alcançar a simplicidade, começando me permitindo ser comum. Não preciso ser a melhor, a mais bela, a mais feliz, informada ou segura mulher do mundo, preciso ser uma que leva a vida que tem com alegria. Carrego comigo os meus limites que me lembram que muitas vezes eu falho, e que é necessário reinventar-me, porque já é tempo de avançar. Nem sempre consigo, mas me repito para buscar tudo que o que eu quiser na minha alma e no meu coração. Lá é mais fácil ser como o Renato e me pedir que exercite o olhar sobre o que é belo e sincero neste mundo..."Quem me dera ao menos uma vez que o mais simples fosse visto como o mais importante..."

De novo, me digo: Avance.
Quando descubro o que verdadeiramente é importante, o que é simples e sincero chega para ficar.

Mona
Maio de 2012.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Adoce.


"Porque aprendi, que a vida, apesar de bruta, é meio mágica. Dá sempre pra tirar um coelho da cartola."
Caio F.

A Clarice sempre diz que devemos ser felizes, "APESAR DE..."
E porque não?!
Pegue então os seus pesares e os adoce com um pouco de esperança.
O resultado virá em dias mais leves, com mais vida e alegria.

Mona,
Maio de 2012.


Escolha!



"Mas como menina-teimosa que sou, ainda insisto em desentortar os caminhos.
Em construir castelos sem pensar nos ventos."


Se o Caio, como eu, entende por teimosia, a insistência absoluta de escolher a felicidade, diria a ele para seguir comigo, porque eu sei que os ventos são divinos, e ficarão ao nosso favor.

Mona
Crato, Maio de 2012.

Encontro



"Dentro dela tem um coração feliz, que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez."

Caio F.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Descomplique!





"Onde é que se encontra o sublime? Perto. Ao regar as plantas no jardim. Ao escolher os objetos da casa conforme a lembrança de um momento especial que cada um deles traz consigo. Lendo um livro. Dando uma caminhada junto ao mar, numa praça, num campo aberto, onde houver natureza. Selecionando uma foto para colocar no porta-retrato. Escolhendo um vestido para sair e almoçar com uma amiga. Acendendo uma vela ou um incenso. Saboreando um beijo. Encantando-se com o que é belo. Reverenciando o sol da manhã depois de uma noite de chuva. Aceitando que a valorização do banal é a única atitude que nos salva da frustração. Quando já não sentimos prazer com certas trivialidades, quando passamos a ter gente demais fazendo as tarefas cotidianas por nós, quando trocamos o "ser feliz" pelo "parecer feliz", nossas necessidades tornam-se absurdas e nada que viermos a conquistar vai ser suficiente, pois teremos perdido a noção do que a palavra suficiente significa."

Martha Medeiros

O que deve nos bastar para que sejamos felizes?
O muito que temos. É tanto.
Temos sentidos que funcionam e nos conectam a um mundo infinito de consciências, visões e sensações.  A Martha bem lembrou sobre o que é essencial, e pensando sob esta ótica, sempre será tempo de retirar um coração grato do peito. Acredito que isto fidelize a felicidade. A gratidão tranquiliza o nosso olhar para o amanhã, quando conseguimos ver que há sempre algo de bom nos acontecendo hoje. Valorizar as coisas pequenas tão cheias de significados, espalhando um obrigada em voz alta, pela simples alegria de "ver o vento passar", faz com que a plantemos à nossa volta. Estando em terra fértil, será também dela o desejo de nos habitar.  Procurar uma felicidade que se cumpra na família, no reconhecimento dos amigos, no amor, nos sorrisos trocados, prezando grandiosamente a saúde, dividindo a vida com um coração livre de neuroses "que não se cansa de ter esperança de um dia ser tudo o que quer", repetidas vezes que sejam.
 É preciso não esquecer que este querer mudará muitas vezes ao longo das nossas experiências, e isto é tão importante quanto entender que na busca, o que é relevante é o reconhecimento dos encontros. Será encontro tudo aquilo que sendo partida ou chegada, e que abrindo ou fechando a nossa porta, se tornará também a nossa vida, porque todo ele é agente transformador, nos fazendo outros, antes ou depois dele. Conhecer-se é importante. É imprescindível conhecermos os nossos defeitos e potencialidades para que possamos inventar uma felicidade para chamar de nossa. Querer ser feliz à nossa maneira é uma forma mais fácil de alcançá-la. Descomplicar o destino também. Comecemos buscando alegria no viver. A minha vida é essa, e é aqui que eu devo me encontrar feliz.

Li certo dia sobre Freud ter dito que “o mundo é movido pela fome e pelo amor”. Isto deveria mesmo ser suficiente. Alimentar corpo e coração, sem exageros, sem expectativas ou autocríticas deslumbradas, sem pódiuns de chegada, aceitando o que a vida nos reserva, sem dramas, e à passos contínuos. Pausas são necessárias, muitas vezes descansam, aliviam, amadurecem-nos, mas seguir também o é. Adiante estaremos todos os dias.

É bom ter em mente o que isto significa para nós. Mas se esquecermos esta concepção sobre a “alegria de viver”, ela está em uma entrevista raríssima e memorável de Freud, no ápice de sua trajetória como pensador e clínico. Diz ele:

“Setenta anos ensinaram-me a aceitar a vida com serena humildade (...) Não, eu não sou pessimista, não enquanto tiver meus filhos, minha mulher e minhas flores! Não sou infeliz – ao menos não mais infeliz que os outros”.

Sigamos este conselho, simples, e sejamos felizes do nosso jeito, como soubermos.
Com nossa família e nossas flores.

Mona
Crato, maio de 2012

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Declarando



"A vida é mesmo coisa muito frágil, uma bobagem, uma irrelevância... diante da eternidade do amor de quem se ama!"
Nando Reis

Vida de interior tem as suas vantagens..., e são tantas!
As facilidades dos encontros, uma praça onde todos se reconhecem, os filhos que andam pelas calçadas (ainda) seguras protegidos pelas referências infantis e familiares, os amigos sempre por perto, tem festa na natureza, curtas distâncias ...e no meu caso, a delícia-plus de viver perto dos meus pais e irmãos! Ver as fases acontecerem e fazer parte de todas elas ter é paz e eternidade em todos os dias.

Manter-se perto físicamente às vezes é impossível, eu sei. Mas há sempre o lado de dentro. Uma voz que anuncia o sentimento, a lembrança de uma carta ou email, uma fotografia surpresa, uma viagem relâmpago e não adiada. A presença pode ser diversamente representada, e sempre sentida.

Cuidar de quem a gente ama é infinitamente importante. Garante saúde a ambas as partes. Tudo é tão simples. E tão gigante.

Coisa boa é o amor.
Declare o seu.

Mona
Maio, 2012.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Esculpindo





"Aceitar-me plenamente? É uma violentação de minha vida.
Cada mudança, cada projeto novo causa espanto: meu coração está espantado.
É por isso que toda minha palavra tem um coração onde circula sangue"

(Um sopro de vida)

As vezes me desconheço. Neste momento, uma pausa para as necessárias apresentações. Felizmente, gosto do que vejo, e se não, porque existem os estranhamentos, rapidamente tento mais um ajuste, mais uma cor, um outro valor. É que vou me fazendo todos os dias, e embora permaneça cheia de mim, me formo constantemente diferente do que já fui ontem. Acho que vamos lapidando o tempo dentro da gente, e dependendo de como o absorvemos e o revertemos em vida, sempre na busca de uma alegria profunda que nos emoldure, percebemos como já não somos iguais, não queremos as mesmas coisas, e o novo sempre nos ronda e nos seduz com as suas promessas seguras de uma chance diferente, onde supomos que tudo o mais é alcançável. Recomeço? Posso chamar de liberdade, de felicidade, de  ato ou de fato.

Entre todos os desafios, o que é achado ou perdido, o que trincou e o que era cola, os acasos e a consciência, tudo significa e é essencial. De barro que somos, sei que nos formamos entre lágrimas e sorrisos, na proporção que os acrescentarmos, com a força e a doçura que usarmos nos nossos encontros com a vida, já que "...se em um instante se nasce, e se morre em um instante, um instante é bastante para a vida inteira."

Mona
Crato, maio de 2012.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Iluminando

 
 
"...Que eu nunca esqueça que um único raio de sol, pode afastar várias sombras!"

São Francisco de Assis

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Alma de borboleta




“Minha alma é pintada como as asas das borboletas.
Contos de fada de ontem vão crescer, mas nunca morrer.
Eu posso voar - meus amigos.
O show deve continuar
Eu irei enfrentar tudo com um grande sorriso
Eu nunca irei desistir
Adiante - com o show.”

The show must go on - Queen
http://youtu.be/4ADh8Fs3YdU

E os limites são barreiras complicadas, por vezes agressivas e traiçoeiras, reconheço. Sobretudo porque os colocamos nos outros muito mais do que em nós mesmos. “Dos nossos (não) entendemos nós”, pensamos, enquanto seguimos entendendo cada vez menos dos outros, com os seus tantos mais aportes que por vezes não nos interessam. Tentando sobreviver aos meus, sinto que “nenhum limite deve me tirar à ambição da auto-superação”. O nosso crescimento deve ser contínuo porque somos muito pequenos diante da grandeza do Universo físico e emocional que nos envolve. Compreensão e compaixão encarecem o olhar. Todos os significados de vida que conheço, contém esta lição, e independente de como vivemos a nossa, devemos conviver com carinho e respeito com as mais diversas cores que compõem as asas de borboleta que voam peitos adentro. Vôos e borboletas, ambos símbolos de brutas e belas transformações. Não posso esquecer que enquanto me exercito para aceitar o outro, promoverei em mim uma renovação que me fará enxergar melhor, e com isso poderei ir além das montanhas de preconceitos que me cegam. Afinal, somos iguais em imagem, limites e possibilidades. “O que são homens comparados a rochas e montanhas?”

Penso que as pessoas que definem os outros com o limite sem gosto das palavras não vividas, inspiraram o Caio Fernando Abreu a escrever o seu livro Limite Branco...
”Eu não me conheço. E tenho medo de me conhecer. Tenho medo de me esforçar para ver o que há dentro de mim e acabar surpreendendo uma porção de coisas feias, sujas. O que aconteceria, então? O orgulho de ter conseguido chegar perto de meu coração? Ou uma grande humildade, uma humildade de cão faminto, rabo entre as pernas, costelas aparecendo? Não sei, não sei — minha cabeça quase estala quando faço perguntas, meu pensamento escorrega, se desvia, foge para longe, como se ele também tivesse medo da resposta. E talvez nem seja preciso coragem. Talvez seja necessário apenas um breve impulso, como aquele que me fazia mergulhar de repente na água gelada do açude da fazenda. E eu nem era corajoso por fazer isso, apenas tinha as esquecido por um instante de mim, do meu corpo.”
“Esquecer do corpo” quer dizer superar “O” limite. É deixar o conforto dos moldes pré-fabricados e ajustar-se a escultura da vida em movimento. O corpo é o que abriga o espírito e nada nesta vida nos limita mais do que ele, caso entendamos por corpo algo mais do que braços e pernas, sendo mente e coração, razão e emoção. Sob este prisma ilimitado, significa então atirar-mo-nos a um frio momentâneo do açude do Caio com a confiança de que o prazer de sentir a plenitude dele, cheio de uma felicidade pura, para muitos vivida somente na infância, nos aquecerá pela eternidade. Esta entrega infantil feita com confiança e alegria renderá adultos mais seguros e livres, porque estes saberão que para todo caminho que vai, há uma volta. Ou duas, três, tantas sejam necessárias. Vimos então que também o corpo precisa ser vencido para que o espírito se fortaleça. Lembrei-me do Padre Elias nos sugerindo que “guardemos as boas novas no coração, porque a cabeça é sempre muito restrita” para nos possibilitar entender o que o Einstein nos dissera em outras palavras: Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”.
Não podemos precipitar a nossa consciência, formatando-a com conceitos eternos, porque na eternidade, só o amor caridoso vive, tudo o mais é aprendido a cada dia. Não é saudável estabelecer definições para uma vida inteira porque ela é feita de um tempo desconhecido, e “no balanço das horas, tudo pode mudar.” Aproveitando a riqueza que este mesmo tempo traz consigo, quando apazigua nossos corações ansiosos e nos concede uma melhor visão sobre a nossa presença no mundo, que cresçamos o quanto pudermos para fazer jus ao entendimento do Drummond, sobre o amor, que faz tudo ganhar sentido... “Amor é o que se aprende no limite, depois de se arquivar toda a ciência herdada, ouvida. Amor começa tarde.”
Exceto quando dizemos que o amor “É um não querer mais que bem querer, é querer estar preso por vontade”, ou que “Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal”, quem define o amor não já não pode senti-lo, porque estará sempre buscando motivos.  Sentimentos muitas vezes não se traduzem, e entre tantas lições do Roberto Freire, guardo comigo uma que me caiba todos os dias...Quem começa a entender o amor, a explicá-lo, a qualificá-lo e quantificá-lo, já não está amando.”
Mesmo assim, é preciso estabelecer até onde podem nos invadir os que não nos entendem e não lembro de nada mais perfeito do que trecho de um livro de uma autora que nem leio tanto, a Zíbia Gaspareto... “Dizer sim quando quero dizer não é dar mais valor aos outros do que a mim, é não colocar meus limites, e isso é não me respeitar.. É o mesmo que dizer que o que eu sinto não vale nada, que os ouros podem passar por cima de mim à vontade. E eles passam, sem dó nem piedade. Hoje estou aprendendo a dizer não. Quando não quero alguma coisa, simplesmente digo não. Sem raiva nem emoção. Um não é só uma negativa. É nosso limite. Um direito que temos de decidir o que desejamos ou não fazer. A isso se dá o nome de dignidade. Quando nos colocamos com sinceridade, dizendo o que sentimos, somos respeitados.
Para todos, a esperança de que constantemente Deus age no nosso coração e de repente somos um milagre, que nasce de novo a cada dia. Tenho amigos queridos que me doam tesouros, entre eles estas palavras que me enriquecem sempre... “Nasçamos de novo não no corpo, esta matéria que nada transcreve, mas devemos nascer no espírito, na cabeça....precisamos morrer com o que é velho para dar espaço ao que é novo.” E isto me fez lembrar de uma linda frase do Caio F."...Porque ocupar espaço com coisas velhas não dá. As coisas novas querem entrar." É o mesmo que estudar a Bíblia e aprender que para que o Espírito Santo nos invada o coração, devemos antes esvaziá-lo de todas as agruras que vamos depositando por lá...é hora de limpar. Limpemos as mentes, os corações, esvaziemos cada espaço das nossas vidas para recebermos as surpresas que a própria vida nos apresenta.
Um dia, como todas as almas que guardam os seus tesouros que só o amor descobre, também seremos inspiração de renovação. Ate lá, antes de dividirmos os nossos medos, lembremos que “...todas as nossas palavras serão inúteis se não brotarem do fundo do coração. As palavras que não dão luz aumentam a escuridão”. E quando não tivermos nada bom para anunciar, que aprendamos com a mãe do silêncio..."Maria porém, guardava todas as coisas, meditando-as no seu coração.” Lc 2,19
“Enfim, sendo borboleta, enfim quebrara-se realmente o meu invólucro, e sem limite eu era. Por não ser, eu era. Até o fim daquilo que eu não era, eu era. O que não sou eu, eu sou. Tudo estará em mim, se eu não for; pois "eu" é apenas um dos espasmos instantâneos do mundo. Minha vida não tem sentido apenas humano, é muito maior - é tão maior que, em relação ao humano, este não tem sentido."
Sim, Lispector, vivemos em uma transformação contínua, e embora nos saibamos parte do mundo Divino, nossos limites não nos deixam esquecer da humanidade que somos. Para sempre, a busca. Para agora, o que importa é sorrir com tantas asas quantas possamos ostentar, um par para cada vitória sobre nós mesmos.

Mona
Crato, Maio de 2012

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Stones with Love



http://www.youtube.com/watch?v=lPC8c9iokP8&feature=player_embedded

Acontecendo



"
— É pecado sonhar?
— Não, Capitu. Nunca foi.
— Então por que essa divindade nos dá golpes tão fortes de realidade e parte nossos sonhos?
— Divindade não destrói sonhos, Capitu. Somos nós que ficamos esperando, ao invés de fazer acontecer."
(Machado de Assis - Dom Casmurro)

Eu uso o meu olhar florido sobre o mundo e o vejo cada vez melhor. Não sei se de fato o é, mas a partir de mim, de dentro do meu universo, é assim que vejo o tempo. Acontecendo.

Sonhar é magia. Ponte entre o desejo e o chão de cada dia. Usar os sonhos para acordar e viver, é vontade. Vê-los divinamente acontecer é possível, "humano e me soa ainda melhor".

Mona.
Maio de 2012.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

(Re) Compensa



"...Crescer custa, demora, esfola, mas compensa.
É uma vitória secreta, sem testemunhas. O adversário somos nós mesmos."

Martha Medeiros

Aprendendo


"Desmediocrize sua vida.
Procure seus "desaparecidos", resgate seus afetos.
Aprenda com quem tiver algo a ensinar, e ensine algo àqueles que estão engessados em suas teses de certo e errado.
Troque experiências, troque risadas, troque carícias.
Não é preciso chegar num momento limite para se dar conta disso.
O enfrentamento das pequenas mortes que nos acontecem em vida já é o empurrão necessário.
Morremos um pouco todos os dias, e todos os dias devemos procurar um final bonito antes de partir."

Martha Medeiros