quinta-feira, 12 de julho de 2012

Construindo.


"Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem.
Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.

Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito. Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.

Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba. "

ELIANE BRUM,
Jornalista, escritora e documentarista.


Adorei as palavras desta jornalista. E este é só o final do texto dela. Ela é tão viva! Percebe-se que é muito ativa, tem os olhos no mundo, o coração nas pessoas e os pés no chão. Sugere uma "fórmula" simples para a vida real: viva sob a mais pura verdade! Revele-se sem traumas, mas sem expectativas de ser e formar super heróis. Comentava sobre isso com um amigo, e ouvi dele uma frase sobre o que considero ser ideal: "Açucare um pouco a vida de uma criança", e eu penso: mas não faça dela uma poça de mel, de onde não consiga desprender-se futuramente. Precisamos nos revelar frágeis, comuns, humanos, com um coração amoroso e vontades idem, mas também com limites e condições. A vida acontece a partir da gente, e todos podemos fazer as escolhas (que sabemos), mas não deixa ela de ser dura e exigente, enquanto compartilhamos juntos um destino! A felicidade não é imperativa, e não precisamos de completude para senti-la. Mas um motivo entre mil, e já temos um sorriso. Felicidade é degrau. Para chegar andar acima, ou abaixo, é preciso percorrê-los um a um. A mediação disso é a aceitação do tempo e da direção entre eles. Entendo as faltas como sinais, para seguirmos ou não, e não gosto usá-las como lamentos. Isso é perder tempo, e energia. A vida é enorme, e eu continuo achando tudo isso tão bonito.

Mona.
Julho de 2012.

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