sexta-feira, 30 de março de 2012

CL



"Eu sou à esquerda de quem entra, e estremece em mim o mundo, (...)Sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscopicamente registro. Sou um coração batendo no mundo.

...Por te falar eu te assustarei e te perderei? Mas se eu não falar eu me perderei, e por me perder, eu te perderia.”

Clarice Lispector

Vício.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Coração.



"Eu sou uma eterna apaixonada por palavras, música e pessoas inteiras.
Não me importa seu sobrenome, onde você nasceu, ou quanto carrega no bolso.
Pessoas vazias são chatas e me dão sono."
...E quem sente tanto, chega a estranhar quem não sente. É que meu calor se aflige com o que é morno. Quem tem o coração acelerado – o que certamente floresce as inconstantes e agitadas “borboletas no estômago” – aprendeu que compartilhar a alegria é multiplicá-la, doando asas aos seus sentimentos até parecer viver suspenso por eles. A esta altura, o mesmo olhar que te pede para me ouvir estende a mão e convida a voar junto.
O que importa acima de tudo, em qualquer rota de vôo, é que devemos percorrê-la carregando um coração cheio de vontade. Pesará menos nos pousos e decolagens que faremos durante a vida inteira. Diria que o contrapeso pode ainda ser saudade, amor, frio, alegria, nostalgia...mas alguma coisa deve vir dento do peito que nos embale os pensamentos e os corresponda às nossas atitudes. E enquanto o meu pensamento cria vida própria, entendo o que o Neruda quer dizer com "...ele mexe com o destino, acompanha a sua vontade".
Vontade é algo particular, e já repetiram excessivamente que não devemos discuti-la, mas eu que não tenho asas como as de Ícaro, vôo longe como a Martha Medeiros, em um trecho de O Divã, onde ela me assegura que a intensidade compensa a distância... ”Sempre desprezei as coisas mornas, as coisas que não provocam ódio nem paixão, as coisas definidas como mais ou menos, um filme mais ou menos, um livro mais ou menos. Tudo perda de tempo. Viver tem que ser perturbador, é preciso que nossos anjos e demônios sejam despertados, e com eles sua raiva, seu orgulho, seu asco, sua adoração ou seu desprezo. O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia.”

Pensar em ser feliz me dá uma chance plena de felicidade. É a partir do meu olhar para o mundo que me desperto como posso melhor construí-la. Quando descobrimos que somar dois ou três dos nossos sentimentos resulta em realidade, aprendemos que viver é usar da coragem para escolher aquilo que nos faz bem. Um sentimento vazio não faz jus à vida linda que a gente tem para respirar, e evitando desperdiçá-la entre tanto, ou tão pouco, penso como é o universo de quem não sente alguma coisa. Agradeço então o meu coração com céu de Big Bang. Sempre renascendo.

Não infantilizarei o amor, tampouco a vida em sua evolução que condiz com a nossa maturação. E mesmo querendo ter os dois pés no chão, espero que a alegria e a esperança me façam levitar todos os dias, porque não acho que a felicidade nasça ao “cumprirmos” um destino.  É preciso criar um a cada dia, e entre o amanhecer contínuo que vivemos, desejo que a luz das minhas escolhas me revolucionem o peito com a mais pura, linda e louca alegria.
Para mim, só me peço que seja a minha vida vivida com a consciência Clara da Lispector que tão bem profetizou que acima de tudo, devo querer a mim mesma, de verdade.
"Sabe o que eu quero de verdade?! Jamais perder a sensibilidade, mesmo que às vezes ela arranhe um pouco a alma, porque sem ela não poderia sentir a mim mesma."
Mona.
Crato, março de 2012. 

Para sempre, com Clarice.


"Quanto a mim tenho que lhes dizer que as estrelas são os olhos de Deus vigiando para que tudo corra bem.
Para sempre.
E, como se sabe, para sempre não acaba nunca. "

Clarice L.

quinta-feira, 22 de março de 2012

O Divino que há em nós.


"A boa pintura aproxima-se de Deus e une-se a Ele... Não é mais do que uma cópia das suas perfeições, uma sombra do seu pincel, sua música, sua melodia... Por isso não basta que o pintor seja um grande e hábil mestre de seu oficio. Penso ser mais importante a pureza e a santidade de sua vida, tanto quanto possível, a fim de que o Espírito Santo guie seus pensamentos..."

Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni (6 de Março de 1475 - 18 de Fevereiro de 1564), pintor e escultor italiano renascentista, tinha 66 anos quando acabou os frescos da Capela Sistina.




Abaixo, detalhe da pintura que reproduz Adão ao receber do Senhor o toque vivificador de Sua mão estendida, tocando os dedos ainda inertes do primeiro homem da humanidade.



O link abaixo remete-nos à biografia do homem, que dono de uma genialidade singular exerceu o seu dom com extrema fé e belissima devoção. Com ele aprendemos que o equilíbrio entre o amor, a entrega e a sabedoria, nos dá um coração manso, grato e feliz, capaz de realizar milagres no dia-a-dia. Revestido do pensamento de que "O amor é a asa veloz que Deus deu à alma para que ela voe até o céu", envolveu o seu trabalho neste sentimento. Havia unicidade no testemunho de vida de Michelangelo, o que possibilitou o reflexo da divindade nas suas obras, sobretudo nesta, fazendo com que emocionem-se todos os olhos que contemplando tamanha beleza, sintam intensamente o toque de Deus através de mãos tão humanas quanto as nossas.


Mona.
Crato, Março de 2012.

terça-feira, 20 de março de 2012

...So Kiss Me.



...E para continuar com replay de "Kiss Me", afinal ele poderia ser infinito, tem uma outra versão lindinha com o The Cramberries...Mais perfeita, impossível.

http://youtu.be/9EMgdsvkVuM

sexta-feira, 16 de março de 2012

Voando nas entrelinhas.



Não sei me explicar fazendo jus ao meu coração feito de estrelas, pássaros e borboletas. Prefiro romancear o que vejo, e tornar o improvável em algo incrível, como Van Gogh o fez. ”Não tenho certeza de nada, mas a visão das estrelas me faz sonhar.”

É muito bacana ter alegria e sonhar colorido. Agradeço ao meu Deus pelo dom da renovação que carrego, pela gratidão por tudo que já vivi, reconhecendo os meus limites e dificuldades, por já saber que não se encontra mais felicidade em qualquer coisa do mundo do que nas pessoas que cruzam as nossas vidas, e sobretudo pela fé que me alimenta os sorrisos, me ensina a ver a vida de uma forma abençoada, com respeito, cuidado, e uma esperança que não finda, que brota em si, igual à natureza podada de Cecília Meireles, que das suas partes, se refaz inteira.

Também sei que é necessário aprender a não depender somente da esperança para esperar o amanhã. Ao passo em que ela nos alimenta o caminho, nos dando fôlego para segui-lo, há a construção da autoconfiança, e de materialização dela. Simone de Beauvoir dizia que “É horrível assistir à agonia de uma esperança.” Deve mesmo ser. É frustrante depositar as nossas escolhas em um vale de sonhos, e vê-las destruídas pelo tempo e atitudes. Tudo o que é dito somente, vira pó se não feito. O tempo leva. Por isso, é preciso aprender a nossa medida, aquela que nos cabe inteiros. Em tudo. O equilíbrio é que nos faz mais, ou menos felizes. Balancear o que é importante sobre o que é irrelevante nos nossos dias, é uma tarefa com alteração constante. Inalterado o nosso eixo central, aquele que sustenta o nosso olhar sobre o mundo, tudo o mais é mutável. Iremos nos revisar tanto durante o caminho, que se olharmos para uma curta distância de dez anos passados, teremos sido outras pessoas, com outras prioridades, vontades, companhias. Até o nosso norte mudamos por desejar ir pro sul, em muitos dias. O sol há de nos seguir. 

Das nossas certezas, que nunca são tão inteiras, sei do que não desejo. Esta é uma certeza. Sei do que não quero. Agora, se ela é variável? Todas elas o são. Não existe nenhuma definição permanente para nada, e até mesmo as nossas vontades, aquelas mais aquietadas dentro da gente, um dia vão acordar carentes de serem de outra forma. Mário Quintana tem lindas palavras, que nos conforta sãos entre as marés dos quereres...” Nada jamais continua, tudo vai recomeçar!” É que tudo recomeça a cada instante. Cada uma das palavras que dizemos, seguidas das coisas que fazemos, definem as nossas escolhas, e apenas uma delas, um sim, ou um não, poderá nos dar outro rumo, a cada minuto. Incrível este poder de autoconstrução que temos nas mãos, não é? E ele, o Quintana, continua...” Quem disse que eu me mudei? Não importa que a tenham demolido: A gente continua morando na velha casa em que nasceu.”  Sempre teremos o nosso alicerce. As nossas lembranças, educação, família, ideais, sonhos, e até mesmo as nossas quedas, nos colocaram dentro de um livro de história pessoal. Não sabemos que final terá, mas as suas páginas sempre serão a nossa casa. Não importa onde estamos, os nossos passos, que somos nós, nos trouxeram até aqui, e é a partir daqui que sempre poderemos continuar, que quer dizer recomeçar. Eu recomecei continuando, e continuarei recomeçando a cada dia, independentemente do tempo que estiver aqui, ou da idade que tiver. É assim para todo mundo. Cada dia, um recomeço disfarçado de continuação. O que posso continuar fazendo hoje, ou quem sabe, descontinuar?

Falo tanto, sobre tantas visões, e quase sempre o que digo é a mesma coisa. Que eu sei que o amor é lindo. Mas acredito que ele “só é lindo, quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser.” A Florbela Espanca morreu dolorida, mas no seu peito vazio ainda via horizonte nas suas esperas. Isto a iguala a todos nós que somos filhos do romance com a esperança... ”E se um dia hei de ser pó, cinza e nada, que seja a minha noite uma alvorada, que me saiba perder... pra me encontrar...”

Enfim, sigo me revelando ainda muitas coisas...mas por enquanto termino hoje me dizendo só Clarice...

“Tudo acaba, mas o que te escrevo continua. O melhor está nas entrelinhas.”

Mona.
Crato, Março de 2012.

Rabiosa

...E porque hoje é sextaaaaaaaaaaa, o dia já começa vibrante, com corpo e mente em um ritmo só!!!




http://youtu.be/gqdFnKcmOHk

segunda-feira, 12 de março de 2012

Coisas da vida.



"- Ela é tão livre que um dia será presa.
- Presa por quê?
- Por excesso de liberdade.
- Mas essa liberdade é inocente?
- É. Até mesmo ingênua.
- Então por que a prisão?
- Porque a liberdade ofende."


Clarice Lispector

É certo que existem pessoas mais intensas do que outras. Há as que se reconhecem nos seus próprios sorrisos, e por isso riem tanto, com uma alegria quase irritante. Estas têm características marcantes, que se exibem permanentemente. Não sei explicar porque alguém se permite sentir mais ou menos, ou como algumas verbalizam os sentimentos sem falsos pudores, enquanto outras não os reconhecem, ou assumem. Acredito que aquelas sabem que o amor não mata, mas a falta dele, sim. O amor não precisa fazer sentido, mas descrever o que sentimos nos dá um. Além de ser esclarecedor, conscientiza-nos sobre quem somos, e consegue fazer com que jamais  percamos o sonho de sorrir verdadeiramente, comemorando a natureza dos sentimentos junto de alguém que generosamente, também os sinta. Assim pede Chico em Joana Francesa..."mata-me de rir, fala-me de amor", com todo o seu charme e apelo irrecusáveis.

Rita Lee, que entende além do que sabemos sobre a liberdade, e provavelmente tem um espírito intenso e sedento como o da Lispector, também viveu um grande amor e o colocou em palavras. Com ele, escreveu "Coisas da Vida" e nos revelou com os seus medos iguais aos nossos, a simbiose que há entre as escolhas, os passos e as dúvidas. Todos receamos os desencontros e a perdição dos "se" de todo o resto, mas esquecemos que no fim, o propósito de toda a caminhada é mesmo um só...encontrar a felicidade e ter a paz de vivê-la. Caminho este que deveria vir inscrito em nós, para nos setenciar à encontrá-lo,  ou quando durante os passeios pelos cruzamentos da vida o encontrássemos, que recebêssemos a garantia de não perdê-lo. Poderia ser um carimbo, um registro, um selo, uma luz..., uma palavra.

Para mim sempre fez tanta diferença percorrê-lo, que entre "viver ou saber que se está vivendo..." mesmo vivendo sob "o sagrado risco do acaso", escolhi sentir, porque já sei que saber é para quem sente. Vivendo sonhando, mas sentindo.... E mesmo sentindo que "ninguém sonhava mais do que eu", aprendi que até quem sonha e sente menos, tem o olhar voltado para as estrelas e procura vê-las, inclusive nos olhares. Pena que nem sempre estamos prontos para reconhecê-las nos encontros, e deixamos passar algo que fará muita falta, mas só no futuro. É certo que ele chegará, e junto virão todos os pensamentos sobre as dúvidas, sobre os sonhos, e as pessoas. Entre uma lua e outra, precisaremos de uma pausa para avaliar aonde escolhemos ir e perceber como estamos. Tomara a Deus que o resultado seja inteiro entre nós e o que continuamos a querer do mundo, mas se não for..."E porque há o direito ao grito, então eu grito..." não se ofenda, é a graça de compor o destino não escrito. Sempre poderemos escolher outra sorte, e outra saída.

“Depois da estrada, começa uma grande avenida. 
No fim da avenida existe uma chance, uma sorte, uma nova saída.
São coisas da vida.
E a gente se olha, e não sabe se vai ou se fica..."



Mona.
Crato, março de 2012.

sexta-feira, 9 de março de 2012

"Basta ser sincero, e desejar profundo."



Veja,
Não diga que a canção está perdida
Tenha fé em Deus, tenha fé na vida
Tente outra vez

Beba,
Pois a água viva ainda está na fonte
Você tem dois pés pra cruzar a ponte
Nada acabou, não, não

Tente,
Levante sua mão sedenta e recomece a andar
Não pense que a cabeça agüenta se você parar
Não, não, não, não, não
Há uma voz que canta
Há uma voz que dança
Há uma voz que gira
Bailando no ar

Queira,
Basta ser sincero e desejar profundo
Você será capaz de sacudir o mundo, vai
Tente outra vez

Tente,
E não diga que a vitória está perdida
Se é de batalhas que se vive a vida
Tente outra vez

Raul S.

http://www.youtube.com/watch?v=dTysnymYjvU&feature=youtube_gdata_player

Felicidade é...


"Não se preocupe com a perfeição.
Substitua a palavra "perfeição" por "totalidade".
Não pense que você tem de ser perfeito, pense que tem de ser total.
A totalidade dá a você uma dimensão diferente."

OSHO

A isenção da perfeição na totalidade do que sou, me deixa mais livre para sentir as "borboletas no estômago" a cada passo que eu der em busca de prosperidade e paz. Valorizemos a alegria, e elas se multiplicarão ao bater as asas dentro de nós, porque saberão que temos esperança para alimentá-las e determinação em não deixá-las ir sem antes sentir o calor do sol, que nos ajuda a refletir juntas, a vida em movimento.

Para entender o que é a simplicidade de ter tanta alegria "somente" porque "o sol brilha para nós" e porque como no clipe, somos uma cidadela encantadora de serra, no interior, onde sempre é festa quando a chuva vem, escutei esta música linda, de nome ainda mais belo, e de repente...."Você vai rir, sem perceber. Felicidade é só uma questão de ser!"



Mona.
Crato, Março de 2012.

quinta-feira, 8 de março de 2012

De mãos dadas, como em uma Ciranda.


Cilene Franceschi pintou Ciranda, em 2010.

Gostei tanto da história que envolve este quadro. A Franceschi voltou de uma viagem à África e o pintou sob a alegativa de ter visto que independente de onde estejamos, somos todas iguais, e como em uma ciranda, volteamos daqui, ou dali, mas a cada rodada, uma de nós revela os seus passos e segredos ao mundo, como se fossem os únicos, embora nós saibamos que eles são os mesmos para todas nós. Sim, somos iguais.

Sejamos nós mulheres brasileiras, africanas, européias ou de qualquer outra parte do planeta, fomos feitas por Deus da mesma forma, com o mesmo material e propósito. As questões externas, culturais, religiosas e sentimentais diferenciarão o nosso passado e o nosso futuro, ao longo do presente das nossas vidas, inibindo ou revelando em nós os nossos dons, afinidades, vontades, motivos, e até mesmo as nossas marcas, as lágrimas e os sorrisos, farão nos nossos rostos e corações o desenho da nossa sensibilidade, vivências e intuições, inclusive do que não revelamos. Tudo se encontrará um dia.

O que é bacana é que construídas por Deus que somos, fomos escolhidas para ajudá-Lo a construir o Seu universo de filhos, e fazemos parte da grande festa abençoada que é gerar o próximo. Esta função quando não fisiológica, de visceral que é, acontece no cuidado e amor dedicados a qualquer ser que tenhamos como nosso em algum momento. Viemos com uma inscrição de cuidar, e para isto não é preciso marcar um dia. Sempre será tempo.

Passamos pelos olhares e mãos de várias gerações de mulheres, e muitas vezes nem sabemos o porquê de algumas das nossas características, mas se olharmos um pouco para trás, estaremos espelhadas entre as muitas avós, tias, amigas, vizinhas, professoras, filhas. O surgimento de cada mulher nas nossas vidas nos acresce um significado. A troca é tão intensa, que normalmente agregamos um saber a mais. Sabemos que “...Os saberes nem são maiores, e nem menores. São diferentes“, como nos ensina o Paulo Freire, na sua visão feminina de entender que as partes fazem o todo, e que o método melhor para aprender é mesmo o que ensina a somar.

Agradeço por todos os dias que as muitas mulheres da minha vida me tornaram quem sou. E em troca, espero tê-las dado um pouco de alegria e de calor. Fechando o círculo que representa o nosso sexo, posso nos imaginar pela vida em uma grande roda, sorrindo e cantando como em uma “ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar...”

Desta forma, de mãos dadas, gostaria que seguíssemos atentas a tudo que acontece a nossa volta, comemorando a nossa força e graça, com a firmeza e a leveza que nos pertencem.

Um beijo enorme!
Mona.
Crato, Março de 2012.

terça-feira, 6 de março de 2012

E cada um tem o seu segredo.


"Flores envenenadas na jarra.
Roxas azuis, encarnadas, atapetam o ar.
Que riqueza de hospital.
Nunca vi mais belas e mais perigosas.
É assim então o teu segredo.
Teu segredo é tão parecido contigo que nada me revela além do que já sei.
E sei tão pouco como se o teu enigma fosse eu, assim como tu és o meu."


Em cada um de nós habita um abismo, uma zona não tão neutra, onde os conflitos subsistem com pouca luz. Eles abrigam nossos segredos e limites, vontades, potencialidades e dramas, principalmente aqueles que temos de mais secretos e que ainda não nos incorporaram, ou que nunca nos largaram. É onde todos os “se” escolhem ficar, visto ser magneticamente um lugar de idas e vindas.

Sei também que muitos ainda não sabem que os temos, e talvez jamais saibam. Há pessoas que não se questionam, ou não se enfrentam, e passam meio adormecidas pela vida. Mas eu poderia descrevê-lo dizendo que é aonde vimos um quase fundo, e é de lá que voltamos das nossas tristezas saudáveis para a sabedoria de receber mais uma alegria intensa e imperfeita, de perfeitas e limitadas que são todas elas. Ao retornarmos, como na volta de um mergulho, a pressa de chegar à superfície nos obriga a guardar com euforia, a respiração da subida para comemorar a certeza de ter terra à vista. O sopro do alívio de sentir o chão, nos faz engolir no segundo seguinte a paz de avistar novamente tudo o que nos pertence. A consciência do retorno nos liberta soltos, com a autenticidade de quem a tudo possui, para o próximo risco que é viver na imprevisibilidade de todas as nossas marés. Mesmo que vivamos na mais mansa delas, não esqueçamos que não há previsão segura sobre o tempo seguinte. Ele pode mudar em um único instante, e não será necessário pedir-nos permissão.

Martin Luther King que entendia de lutas justas, disse que “...É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar. É melhor tentar, ainda que em vão que sentar-se, fazendo nada até o final. Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias frios em casa me esconder. Prefiro ser feliz embora louco, que em conformidade viver.”

É bem verdade que o contexto interfere. As razões também. E quanto a elas, de particulares que são, ofereço os meus ouvidos e respeito a todas. Mas após as descobertas de cada dia, é preciso agir com a urgência de quem tudo sabe. E embora a vontade determine mais do que a sorte sobre o nosso destino, entendo que para exercer a primeira é preciso orientação. De vez em quando, me pergunto:

“-Do que tenho vontade?”

Estou sempre descobrindo, e a partir do que percebo, desenho a minha rota nas condições que tenho para ser feliz agora. E como se tivesse uma bússola, penso que isso me orienta a seguir pelos caminhos entre os bancos de corais que ameaçam o meu casco. O meu desejo é apenas viver feliz, enquanto tento exercitar com simplicidade o equilíbrio entre o que quero e o que preciso ter para me manter navegando pacificamente. Dói um pouco reconhecer-me imersa no meio tempo das fases, aprender com as mudanças que vêm do amadurecimento por navegá-las é sofrido, sobreviver a alguns naufrágios deixa-nos com lembranças profundas, a aceitação do que construímos, ou do que já não podemos, muitas vezes enfraquece-nos, mas a confiança que outras coisas existirão e a fé de que será o melhor, já que é o fruto do que soubemos fazer, nos deve justificar quem somos, ou pelo que vivemos. Tempestades passam. “Olhemos para além das montanhas”, como sugere Nietzsche, mesmo que sejam as montanhas de areia, feito dunas ao vento, que temos dentro de nós.

No meu caso, os meus abismos não me dragam permanentemente ao fundo, embora me tirem o ar em pequenas pausas repositórias. Talvez porque eu não os evite, mesmo que os receie. Quando mergulho em um deles, me ausento nesta extensão até encontrar-me com o que tenho de melhor, e de pior. E neste momento, tento fortalecer o conjunto que sou. Posso dizer que das minhas faces, a pior delas sempre se afoga no sorriso feliz daquela que não sucumbe à falta temporária de luz ou de entrega. E quando vejo que a que sobrevive é esta que respira o mundo livremente, olho para o escuro que há a minha volta e me despeço do meu oceano de dúvidas e sonhos, sem revelar muitos dos meus enigmas. Não sei o que provocará o nosso próximo encontro sempre às escuras, mas me despeço de forma grata, com respeito, cantando Chico para nós...

“Eu bato o portão sem fazer alarde, eu levo a carteira de identidade...e a leve impressão de que já vou tarde.”

...Enquanto iço a minha âncora das águas que já não me pertencem, penso em seguir amando a verdade que me ilumina, sentindo a deliciosa brisa da esperança que me sopra o rosto e me faz lembrar que apesar de tudo, eu sou o porto de chegada. Para sempre, serei a enseada que abriga os meus temporais.

Mona
Crato, Março de 2012.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Sem medo de ser feliz!


"Escolha, entre todas as escolhas, aquela que seu coração mais gostar, e persiga-a até o fim do mundo. Mesmo que ninguém compreenda, como se fosse um combate. Um bom combate, o melhor de todos, o único que vale a pena. O resto é engano, meu filho, é perdição."
Caio F. Abreu


O novo tempo que é hoje.



''...Hoje vou viver pra esperança, pra coisas bonitas e sorrisos largos.
Mesmo que tudo dê pra trás. H
oje vou andar de mãos dadas com meu anjo da guarda...''

Caio F

Desapegando de ontem.



 ‎''Ontem chorei. Por tudo que fomos. Por tudo o que não conseguimos ser. Por tudo que se perdeu. Por termos nos perdido. Pelo que queríamos que fosse e não foi. Pela renúncia. Por valores não dados. Por erros cometidos. Acertos não comemorados. Palavras dissipadas.Versos brancos. Chorei pela guerra cotidiana. Pelas tentativas de sobrevivência. Pelos apelos de paz não atendidos. Pelo amor derramado.... Pelo amor ofendido e aprisionado. Pelo amor perdido. Pelo respeito empoeirado em cima da estante. Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda- roupa. Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados. Pela culpa. Toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa. Por tudo que foi e voou. E não volta mais, pois que hoje é já outro dia. Chorei...''

Caio Fernando Abreu