Hoje tive a benção de encontrar uma amiga querida, que entre pausas me contou sobre o seu momento de crescimento. Pelo seu sorriso ansioso de um amanhã mais livre, ela me fez lembrar que certa vez lendo sobre a Clarice, vi que a sua primeira reportagem teve como título “Onde se ensinará a ser feliz”. Achei a idéia tão bacana e interessante, como tudo o mais que a envolve, que lembro ter pensado igual a “uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta”, como esse propósito vive a nos nortear. Hora está dentro do nosso peito, sacudindo a nossa busca eterna de alegria e paz, outrora o reconhecemos vivo muito além de nós, nas estrelas, no universo, nos encontros, em um sorriso ou na ausência dele, nos lamentos, em uma saudade, falta viva no olhar de alguém que conhecemos ou não.
É fato que o mundo anda sedento de alegria. Faltam mais peitos querendo ser lugares “onde se aprenda a ser feliz”. A trivialidade da maioria das relações e o comodismo da permanência em escolhas com significados vencidos parecem deixar todo mundo sonolento, adormecido dentro de si. É hora de aproveitar o autoconhecimento da Lispector, ricamente imortalizado nas suas palavras, e pensar como ela: O que vivo hoje, “Isto caberá nos meus dias?!” Eu penso sempre. É assim que abrigarei as minhas emoções, e me farei um baú de quases? Felizmente, é possível perceber que as pessoas que desejam menos do mundo, e mais de si, as que são mais simples, para não dizer, simplesmente desejosas de uma vida feita por um coração apaziguado, enfim começam a despertar que é passada a hora de balancear o ritmo e o motivo das decisões constantes da vida. Claro que não há garantias para uma busca que não finda, e que como nós, se altera, se renova, e se refaz, mas o interessante é que juntos iremos nos fazendo entre tudo aquilo que nos enraíza, e que ao mesmo tempo nos faz levitar, os sonhos e as decisões. Feitos de raízes e de asas.
Para visualizar este pensamento e me renovar a direção, sempre releio uma frase do Carter que define a composição da eternidade no pouco de cada dia... "Existem apenas dois legados permanentes que podemos desejar dar a nossas crianças. Um deles é raízes; o outro, asas."
É importante estabelecer os limites e as responsabilidades de um caráter saudável, mas é igualmente sábio fazer um filho sonhar em tê-lo e vivê-lo, em uma vida feliz. Fazê-lo desejar a felicidade é a parte mágica da educação. Saber relaxar o sorriso é condição de ter baterias novas para tempos de pouca energia. Eu entendo a minha amiga e as suas expectativas de realização. Ela viu e teve isso tão perto nas suas raízes, em uma casa feliz onde cresceu, que as suas asas foram deixando-na muito longe do terreno onde gostaria de estar plantando os seus cultivos. Havia algo de inconciliável naquela equação. Não sei se projetei em mim “um lado infantil que não cresce jamais”, e por isso alimento a minha esperança com uma fé (quase) incansável, mas acredito nessa proporção. Acredito que metades de céu e de terra fazem bem aos corações. Na verdade, esse equilíbrio se dará de forma bem pessoal. Uns terão mais raízes, o que não os impedirá de querer voar mais, e outros terão mais asas, e estes também poderão desejar mais concretude em seus caminhos. Para isto, a vida concede as podas, que serão sempre necessárias. Elas construirão a forma que cresceremos e o rumo que tomaremos durante a nossa expansão, e se farão presentes sempre que tivermos crescido desordenadamente para baixo ou para cima. Há sempre uma chance de realinhamento.
Sei que entre ter crença e achismos, solidez e flexibilidade, vontades e limites há tanto chão, são tantas noites de frio, onde choramos a escuridão das incertezas, mas para estes momentos existem os sonhos que nos fazem chegar aos céus em poucos segundos. Eles são os horizontes revelados através do universo imaginário que carregamos inconscientemente, e feitos para aliviar o peso de quem, a exemplo da Maria de Milton, é a mistura de “dor e alegria”, nos ensinam o quão gigante é o nosso mundo de possibilidades...“Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça, é preciso ter sonhos sempre. Quem traz na pele esta marca, possui a estranha mania de ter fé na vida.”
A vida pode sim ser feita pelas nossas mãos, com as escolhas que fazemos e alcançamos, mas como diz o Padre Fábio de Melo: “ Quando eu acredito, é a mão de Deus que me alcança”. E nada mais justo, forte e pacífico do que ela, a mão de Deus, com suas podas, moldes e proteção.
Mona.
Crato, Abril de 2012.