sexta-feira, 16 de setembro de 2011

(Re)Começar, de novo, sim...

Bom texto.

Sugere que sonhos são eternos, mudam sempre de objeto e direção, e felizmente continuamos a sonhar.

O fato é que isso nos impulsiona e nos faz levantar todas as manhãs. Afinal, se temos um novo dia, leia-se uma nova chance, de fazermo-nos, e a outrem, melhores e mais felizes, e ainda, se temos consciência disso, seria estúpido não sorrir quando percebemos que surgiram os primeiros raios de sol... porque ali está a luz das nossas idéias e escolhas, e um novo tempo, que foi feito para continuar..., e que nos mostra que nós também devemos seguir. Podemos caminhar juntos, porque somos feitos para avançar, somos interligados às lições do mundo, sensíveis e seguros para perceber que quem para no tempo, como diz outro poeta, "quase vive".
E isso é tão pouco.
É muito nada para quem pode tanto.

A autora fala dos sonhos não realizados... ela me instiga! São motivadores os seus pensamentos. Discordo somente quando ela diz que é doloroso lembrar de velhos sonhos e não reconhecê-los, fazendo menção àqueles que não concretizaram-se, como se fossem uma frustração, algozes dos meus sorrisos. Eu prefiro vê-los com outra cor. Acredito que na sua existência, de alguma forma, eles já consumaram o seu papel, nem que tenha sido somente para nos servir de trampolim para algo "mais a nossa cara", com ajustes e características próprias do que deve vir adiante.

Não queremos mesmo ser fiéis a um só propósito por toda a vida. Devemos ter vários, sempre melhores e mais fortes, porque é assim que nós somos, crescentes.

Beijos de bom final de semana.
Mona
Crato, 05 de junho de 2006.

Começar de novo. Mas de novo?
[07 Janeiro 15h50min 2006]Vivendo e aprendendo; aprendendo que o tempo passa e não se aprende quase nada.

Você, que faz tudo para não errar, continua cometendo erros, sofrendo e fazendo outros sofrerem. Como seria bom acertar sempre, como seria boa a vida se isso fosse possível, e mesmo em coisas absolutamente banais - aliás, banais não: importantíssimas.

Não existe ninguém fiel a uma só fase a vida inteira. Em algumas delas, tudo que se quer é comer na frente da televisão, com uma bandeja no colo e, se possível, no quarto. Em outras, sem uma sala de jantar não se vive, e com todas as suas implicações, isto é: vários tipos de louça, copos combinando, montanhas de guardanapos, toalhas, jogos americanos e por aí vai. Você vai acumulando coisas, passa o tempo entrando em antiquários procurando porta-retratos, vasinhos e sobretudo objetos insólitos que não servem para absolutamente nada - e quanto mais inúteis, melhor.

Aí um dia acorda pensando no absurdo que é ter tanta coisa guardada, enchendo os armários e acumulando poeira. Compra umas revistas de decoração e fica apaixonada por umas casas japonesas, quase sem nenhum móvel, nenhum objeto, nem mesmo um cinzeiro - claro, os donos dessas casas não fumam -, um vaso com um copo de leite, só um, e tudo, do piso à vassoura, meio branco, meio cru; a ausência de cores é de tal ordem que se o dono da casa for assassinado seu sangue deve ser bege, para não chocar com a decoração.

O primeiro impulso é mudar tudo, claro, mas para isso vai ser preciso se desfazer de todas as quinquilharias que foi acumulando pela vida.

O primeiro dos absurdos é sumir com a colcha marroquina toda salpicada de paetês que comprou naquele dia - aquele, lembra? - em que pensou em largar tudo e começar vida nova numa pequena cidade perto do deserto, enrolada em panos, tomando chá de menta e comendo tâmaras. É doloroso lembrar de nossos velhos sonhos; e todos os muranos que trouxe de Veneza, naquele ano em que decidiu se instalar num apartamento pequeno dentro de um palazzo - claro - dando para um pequeno canal, na cidade mais bonita do mundo?

Ah, passar o inverno numa Veneza sem um só turista, se cobrir de peles - lá pode - para ouvir concertos nas igrejas, passar o ano novo bem longe do calor, da praia, dos fogos, da animação - esse foi um dos sonhos que você não realizou, lembra?

De cinzeiro em cinzeiro, de objeto em objeto, sua vida vai passando como se fosse um filme. Mas virar clean é jogar fora o passado, que mesmo não tendo sido exatamente o que você queria, é o único que tem. E o que é uma pessoa sem passado?

Não, vai continuar tudo igual. Mas ainda dá tempo de realizar alguns dos antigos sonhos; de vez em quando volta a vontade de mudar tudo, começar tudo de novo, sem memória, em um país onde falam uma língua que não se entende e onde não se conhece ninguém.

Mas não é preciso radicalizar: no lugar de se mudar para o Marrocos definitivamente, você pode ir para lá comer tâmaras por uns seis meses; e pensando bem, passar janeiro inteirinho em Veneza já seria a glória.

Você descobre que, se quiser mesmo, pode fazer tudo com que um dia sonhou.
Que dá, dá; mas será que você ainda quer? E será que tem coragem?

Danuza Leão

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