"Onde é que se encontra o sublime? Perto. Ao regar as plantas no jardim. Ao escolher os objetos da casa conforme a lembrança de um momento especial que cada um deles traz consigo. Lendo um livro. Dando uma caminhada junto ao mar, numa praça, num campo aberto, onde houver natureza. Selecionando uma foto para colocar no porta-retrato. Escolhendo um vestido para sair e almoçar com uma amiga. Acendendo uma vela ou um incenso. Saboreando um beijo. Encantando-se com o que é belo. Reverenciando o sol da manhã depois de uma noite de chuva. Aceitando que a valorização do banal é a única atitude que nos salva da frustração. Quando já não sentimos prazer com certas trivialidades, quando passamos a ter gente demais fazendo as tarefas cotidianas por nós, quando trocamos o "ser feliz" pelo "parecer feliz", nossas necessidades tornam-se absurdas e nada que viermos a conquistar vai ser suficiente, pois teremos perdido a noção do que a palavra suficiente significa."
Martha Medeiros
O que deve nos bastar para que sejamos felizes?
O muito que temos. É tanto.
Temos sentidos que funcionam e nos conectam a um mundo infinito de consciências, visões e sensações. A Martha bem lembrou sobre o que é essencial, e pensando sob esta ótica, sempre será tempo de retirar um coração grato do peito. Acredito que isto fidelize a felicidade. A gratidão tranquiliza o nosso olhar para o amanhã, quando conseguimos ver que há sempre algo de bom nos acontecendo hoje. Valorizar as coisas pequenas tão cheias de significados, espalhando um obrigada em voz alta, pela simples alegria de "ver o vento passar", faz com que a plantemos à nossa volta. Estando em terra fértil, será também dela o desejo de nos habitar. Procurar uma felicidade que se cumpra na família, no reconhecimento dos amigos, no amor, nos sorrisos trocados, prezando grandiosamente a saúde, dividindo a vida com um coração livre de neuroses "que não se cansa de ter esperança de um dia ser tudo o que quer", repetidas vezes que sejam.
É preciso não esquecer que este querer mudará muitas vezes ao longo das nossas experiências, e isto é tão importante quanto entender que na busca, o que é relevante é o reconhecimento dos encontros. Será encontro tudo aquilo que sendo partida ou chegada, e que abrindo ou fechando a nossa porta, se tornará também a nossa vida, porque todo ele é agente transformador, nos fazendo outros, antes ou depois dele. Conhecer-se é importante. É imprescindível conhecermos os nossos defeitos e potencialidades para que possamos inventar uma felicidade para chamar de nossa. Querer ser feliz à nossa maneira é uma forma mais fácil de alcançá-la. Descomplicar o destino também. Comecemos buscando alegria no viver. A minha vida é essa, e é aqui que eu devo me encontrar feliz.
Li certo dia sobre Freud ter dito que “o mundo é movido pela fome e pelo amor”. Isto deveria mesmo ser suficiente. Alimentar corpo e coração, sem exageros, sem expectativas ou autocríticas deslumbradas, sem pódiuns de chegada, aceitando o que a vida nos reserva, sem dramas, e à passos contínuos. Pausas são necessárias, muitas vezes descansam, aliviam, amadurecem-nos, mas seguir também o é. Adiante estaremos todos os dias.
É bom ter em mente o que isto significa para nós. Mas se esquecermos esta concepção sobre a “alegria de viver”, ela está em uma entrevista raríssima e memorável de Freud, no ápice de sua trajetória como pensador e clínico. Diz ele:
“Setenta anos ensinaram-me a aceitar a vida com serena humildade (...) Não, eu não sou pessimista, não enquanto tiver meus filhos, minha mulher e minhas flores! Não sou infeliz – ao menos não mais infeliz que os outros”.
Sigamos este conselho, simples, e sejamos felizes do nosso jeito, como soubermos.
Com nossa família e nossas flores.
Com nossa família e nossas flores.
Mona
Crato, maio de 2012
Um comentário:
Como é bom te ter aqui tão perto!! Amo suas lindas palavras.
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