segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

(Re) Ver para não esquecer!



Antes do Amanhecer ( Before Sunrise - 1995) e Antes do Pôr-do-Sol ( Before Sunset - 2004).

Hoje um amigo me fez lembrar destes filmes que assisti há alguns anos. Como alguns outros, estes também têm sensibilidade de verdade na construção, e foram feitos para sugerir questionamentos sobre as particulares visões de homens e mulheres, despertando identificação com características típicas de cada sexo, provocando nosso pensamento sobre a ligação entre as necessidades sentidas e as diferentes escolhas que fazemos a partir de cada idade e consciência. Nos dois filmes da sequência intercalada por nove anos, percebi muito dos meus desejos, sonhos, diálogos, idéias e ideais, desapontamentos, encontros e desencontros naturalmente confusos e simultâneos como na realidade dos quais foram retirados, afinal os dois relatos estão longe de ser ficção. É tão trivial perdermo-nos entre as muitas possibilidades que temos, ou que pensamos não ter, que não raramente sabemos e sentimos, sobre os encontros não vividos, retraídos, abandonados impossibilitados, mas carregados como lembranças, imortalizados em olhares que se reconhecem, ou em pequenos flashes de alegria ou de projeção que perduram o suficiente para nos fazer duvidar..." Ah! SE eu..."

Não há menção sobre quem inspirou os autores a escrever tal roteiro. Dizem que é autobiográfico. Mas a citação não é necessária. É tão comum vermos pessoas que (des) encontraram-se por suas decisões em diferentes momentos, e ao contrário dos que confiam no acaso, fizeram escolhas próprias, quanto sabermos que também (não) escolhemos e (não) decidimos as sequências das nossas vidas por infinitas vezes, parecendo esperar a articulação do universo, mesmo quando ao inverso do filme, ficamos aonde já chegamos sob a desculpa de o destino parecer conspirar para não irmos a outro lugar. Será?! Não escolher já não é uma escolha?! Fácil apontar culpados para a nossa infelicidade. Acho tão absurdo acreditar que não há alternativa, como se a sua opção de ontem se tornasse um castigo ou uma condenação, tal qual espernear em caminhos de areia movediça. Brincando com as palavras e os sentidos, diria que há sempre uma saída, ACIMA de tudo. Destino igualmente assustador para os que acham que não há mais para onde ir, porque não haveria mais sobre o que decidir, já que a vida segue o curso natural, com tudo que tinha que ser. O que?! A vida passa, "o tempo não para" e as condições restritas pelas convenções e objeções naturais já amedrontam quem não foi aonde gostaria de ter ido. "Ah, SE eu...!"

Sei que inúmeras vezes desejamos ficar entre o anoitecer, pausados na madrugada, para não ter que amanhecer, mas sendo impossível não seguir, devemos ponderar as nossas estradas entre o mapa já traçado e aquele que sempre poderá vir a ser um caminho descoberto. Depois de percorrido, um dia este também estará no mapa, e o que os diferenciaria então? A passagem. Ela é que os fará existir. Passar por eles, ou não, nos pontilha para como afinal somos agora. Entre as idas e vindas vamos nos fortalecendo, conhecendo, limitando os pontos a percorrer, sabemos aonde não queremos ir e não vamos, aonde queremos e por vezes ainda não vamos, mas acredito que o que dói mais é não ir a nenhum lugar, porque não há chegada para os que não partem. Sigamos ricos e iluminados como sugere Oswald de Andrade, " Quero a contribuição milionária de todos os erros!", fazendo de todas as fragilidades e imperfeições, aprendizados para quando acontecerem às nossas segundas, terceiras, quartas...chances. Quando paramos de obstacular a felicidade, há sempre outro rumo a se revelar.

Não há fracassos nos limites aceitos. Compreendê-los nos rende a consciência de entender o que nos disse o poético Pessoa :

" Não sou nada.
Nunca serei nada.
À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo!".

Devemos continuar a sonhar para libertar-nos dos estigmas da perfeição (inalcançavel) que rascunhamos no nosso dia a dia, e no do próximo, em tempos de resultados, números e metas, inclusive nas relações emocionais. Abandonemos a letargia das contradições e tracemos com simplicidade os nossos pontos de ações e realizações, começando a caminhada para encontrar-nos com o que é essencial. Somente a entrega com inteireza nos levará a sentir com calmaria, o sabor de ter conciliado estar e querer estar, em um mesmo lugar.

Mona.
Crato, fevereiro de 2012.

Para saber mais sobre a reportagem do The Guardian atribuindo a premiação merecida do filme:
http://gu.com/p/2kbjb

Para ver a lista indicada pelo mesmo Diário sobre "Mil filmes para ver antes de morrer":
http://film.guardian.co.uk/1000films/0,,2108487,00.html

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