quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Enquanto me desfaço, me refaço.


"Embora eu saiba que de uma planta brota uma flor, continuo surpreendida com os caminhos secretos da natureza. E se continuo até hoje com pudor não é porque ache vergonhoso, é por pudor apenas feminino. Pois juro que a vida é bonita."

“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.

Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei."

Clarice Lispector. Clara como ela só.

Quanta lucidez tinha a Clarice! Chego a pensar como alguém pode ter sido tão lúcida com sentimentos femininos, pois sem generalizarmo-nos enquantro mulheres, sei que identificá-los por vezes é tão dificil...somos intensas demais para dizer o quanto fugimos, evitamos, negamos, e até vivemos o que sentimos. Tudo se mistura a determinada altura do chão. Quem não já confundiu-se enquanto pensava estar vivendo, e descobriu-se estar evitando viver? ou quem de nós já não achou que sentia de coração inteiro o que revelou-se ser fuga de si mesma? Sempre negamos do que fugimos. Sempre seremos pensativas demais a respeito dos nossos destinos. A cobrança atual, aguda, e pessoal, de não errarmos, está absurdamente disfarçada na liberdade de que tudo podemos fazer para sermos felizes. Mas será que fazemos?

Quero imensamente continuar minha vida real de felizes encontros e desencontros nada principescos, mas já me cobro pontualmente sobre não topar nas pedras que desencantam. Poderíamos fazer isso conosco? Evitar a queda com medo de não ser nada? Nada do que eu quero, ou nada do que o outro me diz? E se da queda surgirmos com tudo que queríamos? São férteis as dúvidas. Borbulham, se eu cultivá-las. Nas palavras "Claras" acima, extraídas de dois dos seus muitos livros, há a sugestão de que nos conheçamos até duvidar de quem somos ou do que sabemos, para aprimorar as nossas descobertas, e para que tenhamos certeza só de uma coisa...nenhuma certeza é para sempre. Não há definição permanente para nada, sobretudo para ninguém. 

É mais feliz quem aceita ir se construindo a cada dia, e entre a corda percorrida e a que ainda será, saiba aceitar as respostas do mundo, sendo "equilibristas até o fim".


Mona.
Crato, fevereiro de 2012. 

2 comentários:

Roberta Ávila disse...

Acho que esse jeito impulsivo é uma grande característica nossa, sagitarianos. E digo sempre isso a quem me cobra o fato de ser assim, impulsiva e infantil (ingenua): "Quero continuar assim, arriscando com minha impulsividade e acreditando com minha ingenuidade. Arrisque, acredite, viva, senão de que vale estarmos aqui?

Unknown disse...

Sim, Beta! Talvez sejamos mais livres, e nos cobremos menos resultados, mas nem sei se isso é assim tão simples. srsrsr O que sei é que concordo contigo, devemos arriscar, acreditar e viver fazendo valer.
MUITAS saudades, amiga!
Beijooooooooooooo