“Minha alma é pintada como as asas das borboletas.
Contos de fada de ontem vão crescer, mas nunca morrer.
Eu posso voar - meus amigos.
O show deve continuar
Eu irei enfrentar tudo com um grande sorriso
Eu nunca irei desistir
Adiante - com o show.”
The show must go on - Queen
http://youtu.be/4ADh8Fs3YdU
E os limites são barreiras complicadas, por vezes agressivas e traiçoeiras, reconheço. Sobretudo porque os colocamos nos outros muito mais do que em nós mesmos. “Dos nossos (não) entendemos nós”, pensamos, enquanto seguimos entendendo cada vez menos dos outros, com os seus tantos mais aportes que por vezes não nos interessam. Tentando sobreviver aos meus, sinto que “nenhum limite deve me tirar à ambição da auto-superação”. O nosso crescimento deve ser contínuo porque somos muito pequenos diante da grandeza do Universo físico e emocional que nos envolve. Compreensão e compaixão encarecem o olhar. Todos os significados de vida que conheço, contém esta lição, e independente de como vivemos a nossa, devemos conviver com carinho e respeito com as mais diversas cores que compõem as asas de borboleta que voam peitos adentro. Vôos e borboletas, ambos símbolos de brutas e belas transformações. Não posso esquecer que enquanto me exercito para aceitar o outro, promoverei em mim uma renovação que me fará enxergar melhor, e com isso poderei ir além das montanhas de preconceitos que me cegam. Afinal, somos iguais em imagem, limites e possibilidades. “O que são homens comparados a rochas e montanhas?”
Penso que as pessoas que definem os outros com o limite sem gosto das palavras não vividas, inspiraram o Caio Fernando Abreu a escrever o seu livro Limite Branco...
”Eu não me conheço. E tenho medo de me conhecer. Tenho medo de me esforçar para ver o que há dentro de mim e acabar surpreendendo uma porção de coisas feias, sujas. O que aconteceria, então? O orgulho de ter conseguido chegar perto de meu coração? Ou uma grande humildade, uma humildade de cão faminto, rabo entre as pernas, costelas aparecendo? Não sei, não sei — minha cabeça quase estala quando faço perguntas, meu pensamento escorrega, se desvia, foge para longe, como se ele também tivesse medo da resposta. E talvez nem seja preciso coragem. Talvez seja necessário apenas um breve impulso, como aquele que me fazia mergulhar de repente na água gelada do açude da fazenda. E eu nem era corajoso por fazer isso, apenas tinha as esquecido por um instante de mim, do meu corpo.”
“Esquecer do corpo” quer dizer superar “O” limite. É deixar o conforto dos moldes pré-fabricados e ajustar-se a escultura da vida em movimento. O corpo é o que abriga o espírito e nada nesta vida nos limita mais do que ele, caso entendamos por corpo algo mais do que braços e pernas, sendo mente e coração, razão e emoção. Sob este prisma ilimitado, significa então atirar-mo-nos a um frio momentâneo do açude do Caio com a confiança de que o prazer de sentir a plenitude dele, cheio de uma felicidade pura, para muitos vivida somente na infância, nos aquecerá pela eternidade. Esta entrega infantil feita com confiança e alegria renderá adultos mais seguros e livres, porque estes saberão que para todo caminho que vai, há uma volta. Ou duas, três, tantas sejam necessárias. Vimos então que também o corpo precisa ser vencido para que o espírito se fortaleça. Lembrei-me do Padre Elias nos sugerindo que “guardemos as boas novas no coração, porque a cabeça é sempre muito restrita” para nos possibilitar entender o que o Einstein nos dissera em outras palavras: “Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”.
Não podemos precipitar a nossa consciência, formatando-a com conceitos eternos, porque na eternidade, só o amor caridoso vive, tudo o mais é aprendido a cada dia. Não é saudável estabelecer definições para uma vida inteira porque ela é feita de um tempo desconhecido, e “no balanço das horas, tudo pode mudar.” Aproveitando a riqueza que este mesmo tempo traz consigo, quando apazigua nossos corações ansiosos e nos concede uma melhor visão sobre a nossa presença no mundo, que cresçamos o quanto pudermos para fazer jus ao entendimento do Drummond, sobre o amor, que faz tudo ganhar sentido... “Amor é o que se aprende no limite, depois de se arquivar toda a ciência herdada, ouvida. Amor começa tarde.”
Exceto quando dizemos que o amor “É um não querer mais que bem querer, é querer estar preso por vontade”, ou que “Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal”, quem define o amor não já não pode senti-lo, porque estará sempre buscando motivos. Sentimentos muitas vezes não se traduzem, e entre tantas lições do Roberto Freire, guardo comigo uma que me caiba todos os dias...“Quem começa a entender o amor, a explicá-lo, a qualificá-lo e quantificá-lo, já não está amando.”
Mesmo assim, é preciso estabelecer até onde podem nos invadir os que não nos entendem e não lembro de nada mais perfeito do que trecho de um livro de uma autora que nem leio tanto, a Zíbia Gaspareto... “Dizer sim quando quero dizer não é dar mais valor aos outros do que a mim, é não colocar meus limites, e isso é não me respeitar.. É o mesmo que dizer que o que eu sinto não vale nada, que os ouros podem passar por cima de mim à vontade. E eles passam, sem dó nem piedade. Hoje estou aprendendo a dizer não. Quando não quero alguma coisa, simplesmente digo não. Sem raiva nem emoção. Um não é só uma negativa. É nosso limite. Um direito que temos de decidir o que desejamos ou não fazer. A isso se dá o nome de dignidade. Quando nos colocamos com sinceridade, dizendo o que sentimos, somos respeitados.”
Para todos, a esperança de que constantemente Deus age no nosso coração e de repente somos um milagre, que nasce de novo a cada dia. Tenho amigos queridos que me doam tesouros, entre eles estas palavras que me enriquecem sempre... “Nasçamos de novo não no corpo, esta matéria que nada transcreve, mas devemos nascer no espírito, na cabeça....precisamos morrer com o que é velho para dar espaço ao que é novo.” E isto me fez lembrar de uma linda frase do Caio F."...Porque ocupar espaço com coisas velhas não dá. As coisas novas querem entrar." É o mesmo que estudar a Bíblia e aprender que para que o Espírito Santo nos invada o coração, devemos antes esvaziá-lo de todas as agruras que vamos depositando por lá...é hora de limpar. Limpemos as mentes, os corações, esvaziemos cada espaço das nossas vidas para recebermos as surpresas que a própria vida nos apresenta.
Um dia, como todas as almas que guardam os seus tesouros que só o amor descobre, também seremos inspiração de renovação. Ate lá, antes de dividirmos os nossos medos, lembremos que “...todas as nossas palavras serão inúteis se não brotarem do fundo do coração. As palavras que não dão luz aumentam a escuridão”. E quando não tivermos nada bom para anunciar, que aprendamos com a mãe do silêncio..."Maria porém, guardava todas as coisas, meditando-as no seu coração.” Lc 2,19
“Enfim, sendo borboleta, enfim quebrara-se realmente o meu invólucro, e sem limite eu era. Por não ser, eu era. Até o fim daquilo que eu não era, eu era. O que não sou eu, eu sou. Tudo estará em mim, se eu não for; pois "eu" é apenas um dos espasmos instantâneos do mundo. Minha vida não tem sentido apenas humano, é muito maior - é tão maior que, em relação ao humano, este não tem sentido."
Sim, Lispector, vivemos em uma transformação contínua, e embora nos saibamos parte do mundo Divino, nossos limites não nos deixam esquecer da humanidade que somos. Para sempre, a busca. Para agora, o que importa é sorrir com tantas asas quantas possamos ostentar, um par para cada vitória sobre nós mesmos.
Mona
Crato, Maio de 2012